“Podre: Episódio A guerra dos Abacates” – Uma análise de Marketing (Série Documental Netflix)
A história e as estratégias de mercado da fruta que nasce prioritariamente em países tropicais, virou a vedete da alimentação saudável, o “superfood” dos “fitness”, e que tem causado muita discussão foi o tema do “Papo à Mesa”.
Baseado no episódio “A guerra dos abacates” da série documental “ Podre” da Netflix, e na sua experiência enquanto especialista e pesquisador em marketing de alimentos, Adriano Andreghetto explicou como o abacate, de um simples fruto bastante consumido na América Latina, passou a ser consumido e super valorizado no resto do Mundo. Hoje em dia, o consumo mundial de abacates chega a 11 mil milhões por ano, e a indústria mexicana do abacate é avaliada em 2 mil milhões de dólares por ano. No entanto, a produção de abacates tem sido marcada por violência e crimes, como assassinatos, raptos e sequestros por parte de cartéis locais, conforme apresentado no documentário da Netflix: “Podre: Episódio A guerra dos Abacates”
Adriano apresentou as estratégias de marketing e comunicação dos produtores de abacate do México e dos EUA para incitar o consumo do mesmo, e fazer com que fosse incorporado nos hábitos alimentares de americanos, canadenses, europeus e asiáticos.
Enquanto idealizadora, conceptora e diretora da Verakis, essa sessão do “Papo à Mesa” foi mais interessante ainda pelo fato de Adriano Andreghetto ter explicado, com um exemplo real, alguns aspectos que venho trabalhando há anos:
1. Se estratégias de marketing bem feitas são capazes, à longo prazo, de incitar o consumo de um alimento como o abacate e mudar o hábito de consumo de diferentes populações, temos que investir em estratégias que incitem a produção sustentável, a valorização de produtos saudáveis e honestos, o consumo de produtos locais, a publicidade coerente, os preços honestos e produtos coerentes do ponto de vista sanitário, social, cultural e ambiental.
Eis uma frase que uso desde de 1996 quando propus a minha primeira versão do Curso de Especialização em Marketing de Alimentos (que a Verakis oferece desde 2009): “Se criamos estratégias de marketing e comunicação para vender refrigerantes e chocolates, também podemos criar para vender cenoura e arroz com feijão”.
E falando em estratégia de marketing e comunicação para vender “arroz com feijão” deixo a dica da estratégia do “Giraffas”, rede de “fast-food” brasileira que é procurada pelas crianças e seus pais para comer o famoso “arroz com feijão”, depois de uma estratégia linda da agência “Umbigo do Mundo” com Marina Pechlivanis.
2. É preciso ter uma visão complexa do mercado agroalimentar e conhecer todos os pontos da cadeia de suprimentos para não incorrermos em erros quando pensamos que um alimento deve ser consumido por todos, e deve ser produzido em qualquer lugar.
O abacateiro é uma árvore que consome muita água e tem colocado algumas regiões, como a Península Ibérica, numa situação de alto risco de seca.
A Quinoa, outro alimento que foi “mundializado” causou um sério problema na disponibilidade interna do alimento no Peru, colocando uma parte da população em risco de insegurança alimentar. Assim como a vagem produzida na Nigéria.
3. E por fim, é necessário que haja uma boa difusão dos conhecimentos técnico científicos relacionado à produção, consumo, características intrínsecas e inclusão de certos alimentos em dietas, de preferência a dar a noção da complexidade do sistema alimentar e da nutrição humana para que em todas partes da cadeia de suprimentos saibam e os consumidores saibam efetivamente o que estão causando com a produção e consumo de alimentos.
Consumimos mais do que um alimento rico em, ou bom para.
Disponibilizamos muito mais que um produto alimentício, podemos colocar sociedades em risco de insegurança alimentar, e/ou desequilibrar o meio ambiente.
Sobre o apresentador:
Adriano Andreghetto – Consultor de Marketing Digital com foco no setor Agroalimentar e Turismo. É formado em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo, possui um MBA em Marketing Estratégico e é Mestre em Marketing Digital pela Universidade Europeia (Lisboa). Durante sua carreira também já trabalhou com projetos nas áreas de sustentabilidade e desperdício de alimentos, com projetos em Portugal, Suíça e Alemanha. Com mais de 10 anos de experiência nas áreas de Marketing, Comunicação e Marketing Digital, vive em Portugal desde 2017 e é atualmente sócio da agência GOMO Digital. Em parceria com a Fundação francesa Verakis, colabora com artigos para a revista iAlimentar.