O cuscuz não é apenas um prato — é uma revolução gastronômica que atravessa continentes e séculos, levando consigo a história de povos nômades e a resistência cultural de várias gerações. Nascido no coração do Magrebe, a terra onde o deserto do Saara encontra a terra fértil das culturas berberes, o cuscuz surgiu como uma invenção pragmática dos mouros: simples, rápido e fácil de transportar, perfeito para as necessidades de um povo que cruzava territórios imensos.
Se hoje ele é Patrimônio Imaterial da Humanidade, reconhecido pela UNESCO em 2020, é porque sua importância vai muito além do prato — é um símbolo de identidade, memória afetiva e resistência cultural.
O Patrimônio Imaterial da Humanidade da UNESCO é um título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a práticas culturais, expressões artísticas, saberes tradicionais e elementos que são parte fundamental da identidade de diferentes comunidades ao redor do mundo.
O objetivo dessa designação é preservar e promover a diversidade cultural global, reconhecendo a importância de manter vivas as tradições e práticas que definem a história e a memória coletiva dos povos. Ao ser reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade, o bem cultural recebe apoio internacional para sua preservação, o que pode incluir financiamento, programas de sensibilização e parcerias para garantir sua continuidade.
A importância desse reconhecimento vai além da valorização cultural, pois também serve como instrumento de desenvolvimento sustentável e integração social, fortalecendo as comunidades que mantêm essas tradições vivas. Exemplos de patrimônio imaterial incluem a gastronomia, festividades, técnicas de artesanato e saberes tradicionais, que não só formam a identidade cultural de uma nação, mas também reforçam a necessidade de preservação de tais práticas para as futuras gerações.
Ser reconhecido pela UNESCO reforça ainda mais a importância do cuscuz (ou couscous) na preservação e valorização das tradições culinárias ao redor do mundo, destacando como um simples prato pode representar a luta pela manutenção da história de um povo.
Uma pequena observação para os mais detalhistas: o “couscous” no Magreb e Oriente Médio é feito com sêmola de trigo. Embora pareça um grão, tecnicamente ele é uma massa feita de sêmola de trigo duro misturada com água. Existem três tipos de “couscous”: o marroquino, o menor; israelense ou de pérola, do tamanho de um grão de pimenta; e o libanês, o maior dos três.
No Brasil, o cuscuz fez uma revolução de sua própria, encontrando um novo lar no Nordeste. Adaptado aos sabores locais, especialmente o milho, o cuscuz nordestino se transformou em mais do que uma refeição: ele é uma afirmação da identidade da região. De Pernambuco, o estado que abraça esse prato com a devoção de quem conhece a força das raízes, o cuscuz se espalha pelas mesas, seja com carne, queijo coalho ou apenas manteiga, mostrando sua versatilidade e o poder de transformação da culinária nordestina.
E o que dizer do Dia do Cuscuz, celebrado em 19 de março? Mais do que um simples prato, é uma data que faz um elo entre passado e presente, tradição e inovação. O cuscuz não é apenas comida — é uma celebração das culturas, das histórias e da adaptação dos povos. Ele chegou ao Brasil como uma semente, mas se transformou em um ícone. Uma verdadeira lição de como a culinária pode unir, transformar e, até mesmo, revolucionar.
Fontes : UNESCO. Cuscuz é reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Disponível em: https://www.clickpb.com.br/culinaria/patrimonio-dia-cuscuz-celebrado.html. Acesso em: 27 mar. 2025.
UNESCO. O que é o Patrimônio Imaterial?. Disponível em: https://ich.unesco.org/en/what-is-intangible-heritage-00003. Acesso em: 27 mar. 2025.
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