O Fórum para a Promoção da Transformação Digital no Setor Agroalimentar (Datagri), realizado em Lérida (Catalunha, Espanha), ocorreu entre 25 e 26 novembro e contou com cerca de 1.500 profissionais de mais de 15 países. Durante o evento foram apresentadas as principais tendências da transformação digital no setor agrícola e os casos de sucesso que estão a acelerar este processo ao longo da cadeia de valor. A Verakis esteve presente no evento e pode acompanhar as novidades e os desafios da transformação digital no setor.
A sustentabilidade foi fundamental em quase todas as apresentações do Fórum. Maciej Golubiewski, Chefe de Gabinete do Comissário Europeu para a Agricultura, participou remotamente da abertura do evento e reforçou que “a inovação no setor agroalimentar é crucial e contribui para uma transição verde e mais sustentável”. Porém, deve ser realizada de maneira responsável. Para Miguel Padilla, secretário-geral da COAG (Coordenadora de Organizações de Agricultores e Pecuaristas) e porta-voz da comissão organizadora do fórum, a transformação digital é uma “ferramenta” necessária para enfrentar a “mudança”, mas ela deve ser “inclusiva” para que todos os tipos de explorações agrícolas possam colher benefícios “na igualdade de oportunidades”.
Neste contexto, nota-se um grande esforço do governo espanhol na criação de políticas que sejam sim sustentáveis, mas também inclusivas. Isabel Bombal Díaz, diretora geral de Desenvolvimento Rural, Inovação e Capacitação Agroalimentar, falou sobre a Estratégia de Digitalização do Setor Agroalimentar e Florestal e do Meio Rural de Espanha. Um documento estratégico, que faz parte do programa do Ministério da Agricultura espanhol e que tem como objetivo apoiar e promover a transformação digital para a criação de condições de vida e de trabalho atrativas nas áreas rurais, que contribuam para o posicionamento ativo e estável da Espanha rural e promovendo a liderança de um setor agroalimentar competitivo, sustentável e gerador de riquezas.
Você sabia que a Verakis tem um programa de visitas técnicas “Alimentos, Alimentação e Sustentabilidade” sobre produção sustentável de alimentos ? Acontece todos os anos na “Food Valley” que fica na região de Parma, na Itália. No programa constam entre 10 e 12 visitas em fazendas de circuito fechado, grandes players do setor agroalimentar, produções slowfood, projetos sustentáveis da Europa para o resto do mundo, dentre outros.
O papel da Cooperativas
Ramón Armengol, presidente da Cogeca, também esteve presente na sessão de abertura do Fórum Datagri. A Cogeca (Confederação Geral das Cooperativas Agropecuárias) representa os interesses das cooperativas agroalimentares, florestais e de pesca europeias entre as instituições da UE e outras organizações sócio-económicas que contribuem para a tomada de decisões na Europa.
O presidente ainda reforçou o compromisso das cooperativas com a sustentabilidade ao destacar que “não importa o que seja feito, que deverá ser feito com sustentabilidade”. Indicou também que as cooperativas estão a “perder a batalha na comunicação” e que têm dado espaço para que outras instituições tenham maior notoriedade, em temas que deveriam ser tratados pelas cooperativas, e reforçou a importância de uma estratégia de comunicação.
Transformação Digital sim, mas com sustentabilidade e propósito
A tecnologia e os seus avanços aplicados ao campo são essenciais, mas é necessário um trabalho conjunto entre todos os intervenientes do setor agroalimentar. Nota-se, no meio de tantos projetos e iniciativas (importantes e necessárias, sem sombra de dúvida), uma constante busca pela vanguarda tecnológica e pelo pioneirismo. Os dados gerados têm diversas “nascentes” mas não “desaguam no mesmo rio”, gerando uma profusão de ferramentas que dão respostas pontuais a certos comportamentos, mas que ainda não conseguem apresentar uma visão holística do setor. Percebe-se, no entanto, um movimento bastante forte do governo espanhol neste sentido, visando encontrar formas de colaboração entre todos os atores do setor, de forma que todos possam se beneficiar inseridos numa comunidade digital do conhecimento.
Neste contexto, há uma grande preocupação em investir em ferramentas e tecnologia e o capital humano não tem sido negligenciado e tem sido integrado em todo processo. A transformação digital deve agregar valor ao agricultor para que ele se sinta parte do processo e contribua com a evolução das ferramentas aplicadas à prática do campo. A tecnologia deve chegar ao campo, a transformação tem que ocorrer, e por essa razão ninguém deve ser posto de lado ou deixado para trás. Esse importante ponto faz parte dos projetos apresentados que colocam sempre a formação do agricultor como um ponto crucial para o sucesso das ações.
Finalizando, nota-se que as palavras de ordem entre todos os projetos apresentados foram a sustentabilidade e a atribuição de uma relevância chave para o setor da cibersegurança, integração de sistemas e Internet das Coisas (IoT). A transformação digital é vista como elemento essencial para alcançar os níveis necessários de sustentabilidade na produção agrícola, através de uma gestão de recursos otimizada e melhores tomadas de decisão. No entanto, todo este processo deve ser colaborativo e, nas palavras do Ministro de Agricultura, Pesca e Alimentação do Governo de Espanha, Luis Planas, “não podemos ter rentabilidade sem sustentabilidade”.
Os projetos inovadores e os casos de sucesso do setor agroalimentar
Foram realizadas duas mesas-redondas sobre a digitalização na rede agroalimentar e sobre o impacto da digitalização nos modelos de negócios agroalimentares. Nelas, foram analisados uma dezena de casos de sucesso nacionais e internacionais dos setores público e privado que apresentaremos logo a seguir:
PepsiCo
A PepsiCo apresentou-se como uma “empresa do Agronegócio” e tem 6 de suas principais matérias primas com base na agricultura. Desenvolvida pela companhia, O iCrop é uma plataforma de big data lançada há quatro anos e que recolhe dados de todo o processo de produção de batata utilizada nos seus produtos. A tecnologia tem sido utilizada com os agricultores com o objetivo de capturar dados em 48.000 hectares de produção de batata em 16 mercados na Europa. O rastreio é feito através de mais de um milhão de pontos de dados de cultura que, compartilhados com os agricultores, podem ajudá-los a entender mais sobre o desempenho da cultura e a correlação entre tipo de solo, clima, irrigação e uso de água.
Vall Companys
A Vall Companys apresentou um plano estratégico de sustentabilidade e detalhou o funcionamento da ferramenta Vall Smart Farm, uma aplicação móvel que permite aos seus produtores integrados ter acesso instantâneo a dados e informações de caráter ambiental e de consumo das fazendas, com os quais podem detectar anomalias ou tendências que afetam a produção animal.
TIERRA de Cajamar
A construção de uma comunidade digital do conhecimento e a colaboração entre todos os atores da cadeia foram os pontos chaves abordados durante a apresentação da Plataforma TIERRA de Cajamar. TIERRA é um ecossistema aberto de conhecimento que promove a cooperação e a inovação e busca a sustentabilidade nos elos da cadeia de valor agroalimentar.
Verdcamp Fruits
A Verdcamp Fruits é uma empresa familiar de frutas e vegetais que “produz alimentos saudáveis de uma forma muito sustentável com uma visão holística e circular”. A empresa fez um alto investimento na utilização de sensores e na IoT (Internet das Coisas) na sua produção. O objetivo principal foi garantir usos mais sustentáveis de água, do solo e de outros insumos importantes na produção agrícola através de decisões tomadas através dos dados gerados pelos sensores.
Cargill
A multinacional americana Cargill expôs a sua plataforma digital – já implantada no país norte-americano -, que utiliza análise de solo com dados de campo e observação por satélite, para otimizar e obter mais benefícios das práticas agrícolas.
CrowdFarming
A CrowdFarming é uma “solução para agricultores criada por agricultores”, uma empresa que oferece suporte individual aos produtores, na criação de canais de vendas diretos ao consumidor. Aqui a proposta de digitalização é mais próxima do produtor, fala com o agricultor “um a um”, analisa as suas necessidades específicas e dá respostas aos seus problemas.
ISFA
O ISFA é uma empresa dedicada ao desenvolvimento, investimento e gestão de projetos agrícolas eficientes e sustentáveis. Com foco na produção de amêndoas, deseja ser líder na produção deste produto num sistema de cultivo SES (eficiente e sustentável). O projeto foca na integração das ferramentas digitais existentes. Essa integração deve resultar em algo que todos possam entender, e não somente engenheiros, de forma a garantir uma utilização correta das informações e otimização de recursos, que garantam maiores níveis de sustentabilidade.
A Comunicação no Setor Agroalimentar
A Verakis preocupada com a necessidade que agricultores, transformadores, distribuidores do setor dos alimentos comunicarem adequadamente por vias digitais, para se fazer conhecer, para agregar valor aos seus produtos, para criar um networking, e para valorizar suas atividades, oferece uma um série de formações sobre estratégia e ferramentas de comunicação para profissionais e empresários do setor.
Esses curso fazem parte do projeto “A comida na boca do povo” que tem como intuito melhorar a qualidade da comunicação no setor agroalimentar, ensinando e orientando seus “players” seja qual for o seu tamanho.