Por volta de 870 a.C., o rei da Assíria, Assurnasirpal II, deu uma festança por 10 dias para exibir poder e riqueza ao povo e representantes estrangeiros. Esse rei não deu a cerveja, bebida dos mesopotâmicos, o lugar de honra, apesar de ter servido jarros desta bebida na festa. Assurnasirpal apareceu exibindo uma tigela rasa, provavelmente feita em ouro, contendo vinho.
Demonstração de riqueza e elegância, as videiras eram cultivadas nas regiões montanhosas e poucas vezes era transportada até as planícies da Mesopotâmia à custo dez vezes mais cara que a cerveja. Por isso, somente a elite se dava o luxo de consumir vinho, além do uso religioso.
Assim como a cerveja, o surgimento do vinho está perdido na pré-história. Os arqueólogos sugerem que sua descoberta ocorreu no período neolítico, entre 9000 a 4000 a.C. na região que hoje corresponde à Armênia e ao norte do Irã. Tentativas de armazenar uva em vasos de cerâmica por longos períodos teriam consequentemente resultado em vinho.
Desse local de surgimento, o vinho se espalhou para a Grécia e no que hoje é a Turquia, Síria, Líbano, Israel e até o Egito. O acesso ao vinho era marca de posição social.
Nos séculos VI e V a.C., na Grécia antiga foram introduzidos os fundamentos da política, filosofia, ciência e das leis ocidentais modernas. Os gregos foram os primeiros a produzir vinho em escala comercial e adotaram uma metodologia de caráter científico em relação à viticultura. Os textos gregos trazem informações sobre como e quando desbastar, colher e espremer as uvas.
Aos poucos o cultivo de grãos foi superado pelo cultivo de videiras e oliveiras, e a produção de vinho elevou a agricultura de subsistência a um nível industrial.
O vinho tornou-se o principal produto de exportação da Grécia além do mar.
À medida que o vinho se tornava amplamente disponível, o que diferenciava as pessoas socialmente era o tipo de vinho. A idade do vinho mostrou-se como de interesse para os gregos depois da origem. Eles diferenciavam muito pouco em relação à safra. Ser culto e refinado eram atributos para quem consumia vinhos mais velhos.
Os gregos tinham o hábito de misturar vinho com água antes de consumir, não o fazer era considerado primitivo. Somente Dionísio poderia beber vinho não misturado com água.
Os gregos foram responsáveis por criar verdadeiros rituais em torno do consumo do vinho estabelecendo regras, mobília, uso de equipamento, roupa apropriada, tudo para enfatizar a sofisticação dos bebedouros.
A exportação do vinho grego para o mundo, bem como os conhecimentos sobre o cultivo do vinho introduziram o processo de preparo do vinho na Sicília, sul da Itália e no sul da França.
Os hábitos gregos, incluindo o de beber vinho, eram imitados por outras culturas. Com isso, o vinho tomou o lugar da cerveja.
A posição de maior produtora de vinho foi assumida por Roma, quando tomou o poder dominado pelos gregos na bacia do Mediterrâneo.
Essa é a terceira parte da apresentação feita por Milene Gomes, sobre o livro “História do Mundo em 6 copos”, do autor Tom Standage no “Papo à Mesa” da Verakis.
O livro foi apresentado pela Profa. Dra. Milene Gomes (Coordenadora do Curso de Engenharia de Alimentos da Unversidade do Agreste de Pernambuco – UFAPE) no Papo à Mesa da Verakis, no dia 21/05/2022.
Revisão: Ana Caroline
Edição: Juliana Grazini dos Santos
Imagem: Iryna Kuznetsova