… Ou, como muito bem escreveram Le Boeuf et Pélissier (2003: 7), “… não é preciso ignorá-lo, a oferta no domínio da informação científica corresponde a um vasto movimento de segmentação. Mercados de informação dependentes de uma lógica comercial específica, para capturar públicos relevantes para os anunciantes. Deve, portanto, ser considerado também como um “produto” cujos contornos específicos correspondem, como qualquer outro bem da mesma natureza no mercado da informação, a uma política editorial. ”
De acordo com um estudo bibliométrico do INSERM, entre 1998 e 2002, os fabricantes estiveram envolvidos em quase 8% das publicações científicas no campo da nutrição na França.
Para além das preocupações comerciais da imprensa hoje, é claro que o profissional responsável pela transmissão dos ditos conhecimentos “científicos” (jornalista, mediador, consultor, etc.) nem sempre possui os conhecimentos necessários para avaliar os resultados da investigação científica e ainda menos para antecipar seus possíveis desenvolvimentos. Na verdade, a formação jornalística e as práticas da profissão são de tal ordem, que o tempo parece insuficiente para aprofundar a análise sobre um determinado assunto, entre as centenas de matérias que um jornalista cobre. Nestas condições, parece não existir o controle das informações transmitidas e a verificação do seu alinhamento com as diretivas dos órgãos competentes, por exemplo. Existe uma real consciência nas equipes editoriais dessas revistas, da importância de informações confiáveis e precisas sobre nutrição e nutrição infantil, para o estabelecimento de hábitos que ajudem a combater disfunções fisiológicas e comportamentais, causadas por anos de descuido e o surgimento da promoção de produtos nutricionalmente desequilibrados?
Salvo alguns abusos, essas publicações representam mais do que uma estratégia de promoção pessoal e profissional. Acima de tudo, são um meio de tornar públicos e acessíveis a todos os resultados das pesquisas realizadas, a fim de promover o desenvolvimento da ciência e, quando possível, educar o público na área estudada.
A publicação de resultados científicos revela a ausência de certezas no campo da biologia. No entanto, os meios de comunicação de massa, quando se trata da popularização da ciência da nutrição, de uma forma ou de outra, distorcem os resultados científicos, quando omitem ou disfarçam os comentários que acompanham a publicação e o apresentam como verdades simples e absolutas.
Isso nos leva a questionar os comunicadores sobre seu conhecimento das especificidades das ciências biológicas e, mais precisamente, sobre suas competências em nutrição. Em suma, trata-se de pensar a informação nessa área veiculada pelos meios de comunicação de massa.
Juliana T. Grazini dos Santos – Doutora em Informação e Comunicação, Nutricionista, Idealizadora da Verakis.
Este é o décimo capítulo da “saga” que narra os alicerces da criação da Verakis.
Leia os capítulos anteriores:
DA SEMENTE AO BROTO VERAKIS – PARTE 9
DA SEMENTE AO BROTO VERAKIS – PARTE 8
Fonte: Trechos da introdução da minha tese de doutorado: “A ciência da nutrição difundida para o público em geral na França e no Brasil – O caso da alimentação materno-infantil. Tese orientada por Baudouin JURDANT
Imagem: suju