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2021

Carne: do meio ambiente à saúde – Visão 360º

Discussão sobre consumo de carne, incluindo aspectos históricos, saúde, bem-estar animal e impactos ambientais. Projeto "Visão 360º no Mundo dos Alimentos" busca equilíbrio.

Há razões históricas para algumas reações de rejeição da carne para o consumo humano, ligadas às religiões, ao desenvolvimento da humanidade e aos aspectos de saúde.

Cada vez mais surgem abordagens adicionais que vêm sendo conhecidas pelos consumidores, em especial nos últimos anos, que são os aspectos de bem estar animal e impactos ambientais ligados à produção de carne.

O consumidor é bombardeado com informações diversas, às vezes contraditórias, todos os dias. Para complicar um pouco mais, temos a inovação da carne de laboratório, igualmente defendida com grande paixão por uns e demonizada por outros.

Por isso esse tema tão complexo foi selecionado para abertura do Visão 360º no Mundo dos Alimentos: convivendo com a controvérsia, projeto Esalq Food e Verakis.

Conheça o projeto

Nossa intenção é mostrar que uma boa conversa, com especialistas em cada eixo dos sistemas produtivos de alimentos, pode ser conduzida de forma respeitosa, substituindo os tão prejudiciais cancelamentos. Saber ouvir, conhecer pontos de vista diferentes, e ter empatia para entender o complexo sistema agroalimentar é a chave para as mudanças necessárias para um futuro mais equilibrado, sustentável e justo.

Por isso, trazemos especialistas que gentilmente concordaram em participar dessa iniciativa. Sabemos que nem sempre é fácil conviver com a controvérsia. Mas é inegável que sem conhecimento viveremos eternamente em bolhas. Vamos romper essas bolhas.”

Estas foram as palavras da Profa. Dra. Thais Vieira da Esalq para a primeira sessão do evento “Visão 360° no mundo dos alimentos – Convivendo com a controvérsia!”.

Carne: do meio ambiente à saúde

O tema desse encontro foi “Carne: do meio ambiente à saúde”, transmitida pelo canal Youtube da Verakis, no dia 3 de março.

Para esta estreia contamos com a presença de ilustres profissionais:

  • Fernando Sampaio: Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ e com especialização no mercado de carne e leite. Atualmente ele trabalha como diretor executivo da Estratégia Produzir, Conservar, Incluir, uma iniciativa do estado do Mato Grosso
  • Francisco J. Barbosa de Oliveira Filho: Formado em biologia, doutor em geografia pela Universidade de Cambridge. Trabalha no IBAMA desde 2002 com o combate ao desmatamento e os impactos ambientais da pecuária e agricultura.
  • Carolina Fernandes: Formada em biomedicina, pós-doutora em biologia vascular, e professora na Faculdade de Medicina Santa Casa de São Paulo. Busca a compreensão da relação cérebro-intestino na fisiopatologia de doenças degenerativas.

A mediação foi feita pela fundadora da Fundação Verakis, Juliana T. Grazini dos Santos e pela coordenadora do grupo ESALQ Food, Thais Vieira.

O objetivo da sessão era que os três especialistas abordassem diferentes perspectivas sobre as proteínas animais, de acordo com as suas áreas de expertise. Eles o fizeram de forma tão brilhante que pareceu-me que se conheciam há anos! A sessão foi repleta de aprendizados e de visões concretas e científicas frente à realidade, mitigando as tão prejudiciais desinformações.

Os temas abordados foram diversos. Eles permearam por produção animal, impactos ambientais da pecuária, e importância da proteína animal para a espécie humana.

Produção animal e impactos ambientais da pecuária

No que diz respeito à produção animal, o principal ponto levantado foi a eficiência da pecuária nos últimos anos. Isso se deu porque ao longo da história a pecuária expandiu horizontalmente, ocupando novos espaços, entretanto, ao analisar os últimos 30 anos, a pecuária diminuiu em escala territorial. Então, é entendido que o Brasil tem conseguido aumentar a produção enquanto reduz o espaço, dessa forma, tem-se tornado cada vez mais eficiente.

Frente ao meio ambiente e à preservação ambiental, foram elencados fatores extremamente importantes. Foi destacado tanto pelo Fernando, quanto pelo Francisco, que é possível aliar a conservação à produção animal, mesmo reconhecendo que não é um trabalho simples.

Um dos assuntos mais polêmicos nesse aspecto é a constante associação da pecuária ao desmatamento e diante disso foi ressaltado que a pecuária brasileira não precisa de mais espaço para atender a demanda interna e externa. De maneira geral os casos de aumento das áreas para a pecuária estão relacionados à ocupação ilegal de área, à grilagem, à especulação latifundiária e à extração ilegal de madeira. Portanto, essa situação está muito mais direcionada à má gestão territorial, por ineficiência do Estado do que à pecuária. Ainda, uma grande dificuldade na pecuária é desvinculá-la da ilegalidade. Assim, a rastreabilidade do boi é extremamente importante e de complexa implementação na cadeia produtiva, requerendo muito esforço e empenho do setor.

Outro ponto bastante discutido foi sobre os impactos ambientais. Uma coisa é fato: a pecuária produz metano através do sistema digestivo dos animais. Esse é um gás que corrobora com o efeito estufa e consequentemente com o aquecimento global, mas é impossível que os animais parem de produzir esse gás. Todavia, com um manejo de pastagem adequado e com a associação da pecuária com a agricultura, ou com a efetivação das agroflorestas, cria-se uma alternativa viável para diminuição das consequências nefastas da emissão de metano. Isso acontece devido à absorção do carbono pelo reino vegetal, através da fotossíntese.

Mais uma vez deixou-se claro que é possível aliar a produção à preservação!

Ainda foi deixado como mensagem que existe sim um encontro entre a produção e a conservação e que, não é possível, com a sociedade que estamos inseridos hoje, radicalizar para nenhum dos lados. Dessa forma não é viável preservar tudo nem produzir a qualquer custo. Para animar aqueles que se interessam pelo assunto, o Francisco disse que essa conciliação já está acontecendo e o Brasil está na direção certa!

A importância da proteína animal para o ser humano

No que tange o ser humano e a importância da proteína animal, quem teve a palavra foi a Carolina. Nesse sentido levou-se em consideração que a espécie Homo sapiens, ao longo da evolução, se alimentava apenas de frutas. A partir do momento em que houve a escassez dos recursos e a mudança climática foi preciso a adaptação. É nesse ponto que a proteína animal é inserida naturalmente na dieta humana e com ela foi possível permanecer “de pé” por mais tempo, quando se pensa em disponibilidade energética, sendo então uma melhor alternativa às frutas.

Além disso, uma mudança biológica muito importante foi o encurtamento do intestino, visto que as proteínas de origem animal são mais facilmente digeridas pelo organismo do que as vegetais, assim a densidade energética e nutricional das dietas aumentaram.

Foi também abordada a questão dos micronutrientes presentes nas dietas com e sem proteína animal. De maneira geral, pessoas que não consomem proteínas de fonte animal, apresentam carência vitamina B12, cálcio, vitamina A e vitamina D. Ao passo que uma dieta com proteínas animais supre melhor estas necessidades. Ainda foi bastante discutida a biodisponibilidade desses nutrientes nas diferentes dietas, sendo este um ponto crucial. Além disso, também foi abordada a possível relação do consumo de carne com o desenvolvimento de doenças como o câncer.

Mensagem final

Por fim, como mensagem final dessa incrível discussão, o ponto principal foi o equilíbrio! O equilíbrio frente à produção, à preservação e à saúde.

É urgente que que se produza bem e num sistema livre de desmatamento e de grandes impactos ambientais. Situação essa que mostrou-se possível e viável!

Confira a sessão!

Saiba mais

O projeto “Visão 360° no mundo dos alimentos – convivendo com a controvérsia”, é uma parceria Verakis/Esalq Food, e tem como objetivo apresentar e discutir controvérsias sobre um mesmo tema com especialistas e pesquisadores de diferentes áreas.

Siga a nossa agenda, inscreva-se, participe!

Escrito por Isabella Brites – Graduanda em Ciência dos alimentos na Esalq, aluna líder do “Visão 360º no Mundo dos Alimentos: convivendo com a controvérsia’.