Em busca de uma alimentação mais saudável, os brasileiros procuram alimentos naturais e nutritivos e acabam se deparando com uma enorme oferta de produtos ditos “selecionados, orgânicos e saudáveis”.
Este problema é abordado no artigo “Do fake saudável à gourmetização” da coletânea que contempla o Atlas do Agronegócio, onde comenta-se que alimentos rotulados como saudáveis, nem sempre o são, mas são precificados como “gourmets”, para justificar um posicionamento de mercado que legitime os preços mais altos.
Um exemplo atual desses alimentos são os substitutos de carne à base vegetais, feitas de plantas e que levam o rótulo de plant based. Porém o conceito desse tipo de dieta difere-se da proposta industrializada. Segundo Paulo Maciel Neto (2019), o conceito de plant based é um tipo de dieta à base de vegetais, com o intuito de diminuir o consumo de carnes e alimentos processados.
Os substitutos vegetais de carne são compostos, em sua maioria, por : soja geneticamente modificada, aditivos químicos e sintetizados, ricos em gorduras e carboidratos e pobres em proteínas. Esse tipo de alimento pode trazer até mais riscos à saúde do que a carne, que é rica em aminoácidos e micronutientes essenciais, dentre outros.
Mesmo os que fogem dos alimentos ditos industrializados e buscam alternativas, são submetidos a um sistema injusto, que insere produtos da cadeia agroalimentar num padrão luxuoso que dificulta o acesso aos menos favorizados.
Discuti-se também o fato de que estes alimentos “fake saudáveis” também podem ser resultante de sistemas de produção baseados em concentrações de terra, exploração de mão-de-obra, violência trabalhista e até mesmo criminalização rural.
Nesse sentido, a gourmetização desses produtos reflete as desigualdades sociais de raça e sociais brasileiras e é essencial um olhar atento do consumidor à procedência e composição de ingredientes desses alimentos.
Texto: Ana Clara Lemos de Paula
Curadoria e edição de texto: Paula de Oliveira Feliciano
Edição/popularização científica: Juliana T. Grazini dos Santos
Ana Clara Lemos de Paula é aluna do curso de graduação em Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário Senac Campos do Jordão e escreveu esse texto como uma atividade da matéria Estudos Contemporâneos de Gastronomia. A publicação integra proposta de aprendizado sobre popularização e difusão científica das ciências dos alimentos e alimentação da Fundação Verakis com o Centro Universitário Senac Campos do Jordão.
Paula de Oliveira Feliciano é mestra em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB/USP, graduada em Gastronomia e pós-graduada em Docência para o Ensino Superior. Atua como chefe de Projetos Verakis Brasil e como professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Gastronomia no Centro Universitário Senac Campos do Jordão. Em 2018, passou pelo programa de estágio da Fundació Alícia/Espanha, centro de pesquisa em cozinha, sustentabilidade e impacto social. E, em 2019, pelo Observatori d’Alimentació da Universitat de Barcelona (ODELA-UB), acompanhando atividades na linha de pesquisa turismo gastronômico.
Juliana T. Grazini dos Santos – Doutora em Informação e Comunicação/Jornalismo Científico/Popularização Científica pela Universidade de Paris 7(Denis -Diderot), vive há mais de 20 anos na França, onde pesquisa e desenvolve trabalhos de jornalismo científico, popularização da ciência e comunicação nas áreas de alimentos, alimentação e nutrição; presidente da Verakis (França), conceptora e diretora do curso de Especialização em Marketing de Alimentos Verakis (Europa); membro do grupo de estudos de informação ao consumidor do Fundo Francês para Alimentação e Saúde (FFAS) e curadora de cursos na área de alimentos e alimentação na Europa, América Latina e Brasil.
Referência
Fundação Heinrich Böll Brasil e Fundação Rosa Luxemburgo. Do fake saudável à gourmetização. Atlas do Agronegócio : fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos. 2018, Disponível em: < https://br.boell.org/pt-br/2018/09/02/do-fake-saudavel-gourmetizacao>. Acesso em 18 mar. 2021.
Imagem: ulleo