A geopolítica parte do princípio de que a geografia condiciona a política. Geralmente o foco está na rivalidade entre poderes, espaços de influência ou controle de infraestruturas que podem ser consideradas estratégicas. Há também outra versão que se manifesta pela cooperação, favorecendo respostas conjuntas e construindo instituições.
A pandemia tem sido, e é, um fenômeno de tal magnitude que nos obriga a considerar as visões existentes, e se os processos de recuperação podem alterar as dinâmicas de cooperação, competição e conflito.
Para seguir em frente e pensar sobre o que nos espera em 2021 e depois, devemos olhar para trás. Lições podem ser extraídas do ano de 2020 do que poderíamos chamar de “geopolítica da pandemia”.
Observa-se um alto nível de interdependência e conectividade, gerando sentimento de vulnerabilidade compartilhada e busca por respostas coordenadas. É verdade que isso revelou disfunções nos mecanismos de governança global, como as Nações Unidas.
A já mencionada geopolítica da pandemia dá lugar, comonão poderia ser de outra forma, à geopolítica da reconstrução.
Tudo parece nos fazer pensar que ao longo do ano se iniciará um processo de recuperação que será longo, desigual e com possíveis choques.
As vacinas irão, em grande medida, definir o ritmo dessa recuperação.
As diferentes formas de pensar a geopolítica podem nos levar a uma visão clássica que nos fez terminar o ano de 2020 falando sobre esferas de influência na saúde, potências como Rússia ou China usarão suas vacinas para consolidar ou expandir suas áreas de influência e enfraquecer a coesão de seus rivais.
Haverá países que solicitarão a suspensão temporária da propriedade intelectual sobre vacinas e medicamentos enquanto durar a pandemia; parte significativa da população adquirirá imunidade em 2024, aqueles de média e baixa renda.
Outra alternativa geopolítica enfocará os instrumentos de governança e cooperação internacional. Um exemplo é a iniciativa COVAX, em que esforços públicos e privados são reunidos para que pelo menos 20% da população receba a vacina em 2021.
Ao longo de 2020, foram dados passos no combate aos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentáve”l, portanto será necessário atualizar e dar ainda mais força à agenda 2030.
Áreas de influência, relações de dependência e mecanismos de cooperação internacional serão ingredientes da geopolítica da recuperação pós-pandêmica.
O ano 2020 mostrou o valor da cooperação, como tem sido a predisposição dos cientistas, mesmo se as tendências nacionalistas também foram observadas, como para a obtenção de máscaras.
Esperemos que o futuro nos reserve uma geopolítica de cooperação e luta real contra as desigualdades.
Alberto Berga Monge – Intervenção no webinar organizado pela Fundação FIDAE.
O Prof. Dr. Alberto Berga Monge, é médico veterinário espanhol, professor e colaborador Verakis, professor colaborador da Universidade de Zaragoza, auditor da União Europeia e diretor da AMB Consulting, e escreve para o blog da Verakis.
Imagem: GDJ