A antropologia nos ensinou que a alimentação é um dos sistemas simbólicos por excelência de qualquer cultura.
Comer é um fato carregado de significados, simbolismos, rituais e códigos que nos permitem comunicar um certo modo de viver a vida.
É um ato relevante quando se trata de avaliar os padrões de socialização, bem como os mecanismos de transmissão de valores.
Não somos apenas o que comemos, como já foi dito, mas também como comemos.
Os tempos e a forma como partilhamos os alimentos dão lugar à comensalidade, como a partilha da mesma mesa. Um duelo de discussão, uma disputa de palavras, em que discursos e contradiscursos representam opiniões contrárias ou complementares que delineiam o assunto.
A comensalidade varia com o tempo e o espaço. A taverna errante de G.K. Chesterton, cuja magia é a capacidade de convocar espontaneamente as pessoas para compartilhar prazeres como comida, bebida ou conversa. Lutam contra o desaparecimento da mesa redonda que constitui um convite ao diálogo, à discussão e à aventura.
As festas populares são a grande ocasião para desfrutar do aspecto efêmero da mesa redonda, que regressa ritualmente ao espaço público.
Ninguém vai provar o melhor cozido da sua vida porque o sabor transcende para nos remeter a algumas tradições em que o imaginário popular nos devolve algumas tradições.
Momentos fugazes em que experimentamos um sentimento de pertencimento comunitário, “companheiro” significa literalmente alguém com quem partir o pão.
A mesa solitária foi uma deriva individualista, inicialmente inventada pela aristocracia para fugir da camaradagem das tavernas, oferecendo uma experiência individual, independente e anônima.
As pessoas começaram a escolher com quem sentar e compartilhar comida. A partir daí passamos para a gastronomia.
A alimentação moderna aborda a liberdade de comer fora das exigências e regras da sociabilidade alimentar, fora das restrições cronológicas dos horários familiares, fora das exigências rituais. Encarna a satisfação de uma gula infantil, em que as guloseimas (hambúrgueres, sanduíches,…) triunfam em detrimento da comida.
Alberto Berga Monge – Madrid, 21 de setembro de 2022.