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2020

Classificação dos Alimentos e o Impacto Social

Discussão organizada pela Verakis e Esalq Food reúne profissionais para debater a classificação dos alimentos segundo grau de processamento e a polêmica Classificação NOVA brasileira.

A questão da classificação dos alimentos segundo o grau de processamento se tornou polêmico por causa da Classificação NOVA, brasileira, que vem sendo bastante criticada, principalmente pelos profissionais das áreas dos alimentos, que questionam o reducionismo, preconceito e inadequação desta classificação.

Uma vez que a a Verakis considera que a questão dos alimetos e da alimentação deveria ser tratada em concerto com todos os especialistas do setor (do zootecnista ao nutricionista), e que este tema não deveria ser visto de forma unilateral, foi organizada, em parceria com o Esalq Food, uma discussão aberta com profissionais especialistas do setor dos alimentos e da alimentação.

Como foi o evento?

O evento reuniu profissionais da área de alimentos, engenheiro agrônomo, médico veterinário, nutricionista, farmacêutico, especialista em gestão e marketing, e especialista em abastecimento, e mostrou a pespectiva de cada um sobre o alimento, com o objetivo de mostrar as múltiplas facetas do alimento em relação a tecnologia, processamento, aspectos sanitários, segurança dos alimentos, saúde pública, segurança alimentar, qualidade dos alimentos, abastecimento e a percepção do consumidor.

A discussão foi moderada pela Profa. Dra. Juliana Grazini, fundadora da Verakis, Doutora em Informação e Comunicação/Jornalismo Científico/Popularização Cientifica, pela Profa. Dra. Thais Viera, Engenheira Agrônoma, doutora em Tecnologia de Alimentos e professora da Esalq, e pela Profa. Dra. Luciana Florêncio, Doutora em Economia empresarial e coordenadora do Programa de Mestrado em Comportamento Consumidor da ESPM, e contou contou com participação do Prof. Dr. Ricardo Calil, Médico Veterinário Presidente da Comissão Técnica de Alimentos do CRMV-SP; da Profa. Dra. Ellen Lopes, Doutora em Ciência dos Alimentos e Presidente do grupo Food Design e do IRSFD e do Mestre Celso Luís Vegro, Engenheiro Agrônomo e Pesquisador Cientifico do Instituto de Economia Agrícola da Agencia Paulista de Tecnologia para os Agronegócios da Secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Abertura

A abertura ficou por conta de Juliana Grazini, que nos trouxe a reflexão da importância do alimento, como o mesmo é dinâmico e complexo, ressaltando o quão relevante é olharmos por diferentes prismas a cadeia de produção de alimentos, e como a ciência deve ter uma maior facilitação na comunicação do conhecimento científico e a informação que chega ao consumidor:

O alimento é a expressão de uma cultura, é necessidade fisiológica, entra em jogo em alguns transtornos psíquicos, faz parte de negociações políticas, é comércio, é alvo de terrorismo, é festa, é alegria, é tristeza, é dar amor, é poder econômico, é pertencimento religioso, é moeda de troca, é trabalho, é mão de obra, é vida em toda sua complexidade.

Juliana complementou a reflexão de abertura dizendo que o alimento em cada uma das suas expressões é complexo, e as visões simplistas e rasas não deveriam emergir nas agendas políticas e é por isso que os pesquisadores ou intelectuais do setor dos alimentos deveriam concertar-se, colocar na mesa divergências e convergências para trabalhar em cima destas últimas e realizar efetivamente o trabalho que têm o privilégio de fazer, que é criar conhecimento para melhorar a vida ou assegurar a sobrevivência de cada um que acorda todos os dias e faz uso do alimento da maneira que lhe é possível: viver, sobreviver, matar a fome, festejar, se curar…

Thaís Viera abriu o diálogo falando sobre a importância da ciência e tecnologia de alimentos para as ciências agrárias, e como as transformações das matérias primas agropecuárias são ímpares para o desenvolvimento da alimentação da humanidade, onde processos como salga, secagem, trituração, separação e tantos outros, auxiliam na conservação e melhoramento dos alimentos para que os mesmos fiquem mais comestíveis. A Profa Thaís ainda abordou o movimento Clean Label e como a indústria de alimentos deve melhorar a comunicação e transparência com o consumidor, tendo em vista que ele está buscando cada vez mais entender a composição do produto, a forma que foi produzido, processado, e o impacto ambiental e social desse sistema de produção.

Na sequência, Luciana Florêncio, que também é uma das moderadores, falou sobre a mudança dos hábitos dos consumidores, e como eles estão vendo toda essa mudança do que é ou não saudável, do processado e não processado, e comentou que estão sendo realizados cada vez mais estudos sobre o Nutritional Labels , sob diferentes perspectivas, que tratam de como a informação nutricional impacta na intenção de compra, bem como suas crenças irão influenciar o consumidor. Ela também falou o sobre a rotulagem de alimentos e a presença de selos, tabelas e “claims” que podem ajudar ou atrapalhar o entendimento dos consumidores, sobre os alimentos, pois os mesmos, na maioria das vezes, não conseguem entender todos os dados presentes na embalagem do produto.

Devemos buscar tornar essas informações muito mais palatáveis, em vez de encher a embalagem de selos que tornam a leitura mais difícil para o consumidor

Quais as características mais importantes de um alimento que devem estar claras ao consumidor para norteá-lo em suas escolhas?

Esta foi a pergunta que foi feita a todos os convidados e, a seguir, é possível conferir os pontos de vista diversos dado por cada um dos profissionais convidados.

Para Ricardo Calil, o consumidor deveria ser mais informado sobre a segurança dos alimentos, sobre a importância dos órgãos fiscalizadores de alimentos, e que devemos dialogar sobre a rastreabilidade dos produtos.

A necessidade de que seja relacionado para o consumidor a sanidade e higiene, porque isto é o que garante, no mínimo, a segurança do produto que será consumido.

Já para Ellen Lopes, a qualidade dos alimentos é algo complexo, e está relacionado com a sensorialidade.

Não nos alimentamos apenas pela nutrientes e sim pelo prazer de comer, pela praticidade uma vez que a dinâmica do cotidiano mudou e estamos buscando por uma facilidade ao nos alimentarmos.

A disponibilidade para que alimentos sazonais devem ser melhor aproveitados para evitar desperdícios e e gerar sustentabilidade, para que os meios de produção sejam mais responsáveis quanto ao meio ambiente, complementa Ellen Lopes.

Na visão do nutricionista, aqui neste texto, dada pela Dra. Juliana Grazini, o consumidor deveria saber que o mais importante é uma alimentação variada, que o grande riscos da alimentação inadequada são os excessos, acúmulos e carências; o consumidor deveria saber que a alimentação o quanto mais simples, e sempre variada, melhor é; o consumidor deveria comer com a consciência tranquila; ele também deveria saber mais sobre as características organolépticas dos alimentos para evitar o consumo dos impróprios, a apreciar bons alimentos; ele deveria saber mais sobre higiene; ele deveria, sem muita intelectualização integrar as 4 “leis” da alimentação adequada de Pedro Escudero (1973) : qualidade, quantidade, harmonia e adequação; e por fim, o consumidor deveria ser assegurado da disponibilidade de alimentos pelos órgãos competentes e por toda sociedade.

A questão do abastecimento dos alimentos foi apresentada por Celso Luís Vergo, que trouxe uma perspectiva bastante interessante sobre a valorização dos profissionais que trabalham no campo, e o quanto somos dependente deles, onde 80% da população brasileira atualmente é urbana e 20% está em áreas rurais, em muitos casos trabalhando com a produção agrícola. Ou seja, atualmente a população urbana está delegando para um pequeno núcleo de pessoas a responsabilidade de alimentar a população brasileira.

Falta a valorização do papel do agricultor, pois eles têm um papel crucial para manter o tecido social do país.

Por fim, a discussão nos trouxe a reflexão do quanto o alimento é multifacetado e significativo para a sociedade, falamos sobre o dinamismo desse setor e o quanto é necessário a comunicação de diferentes profissionais sobre os constantes desafios enfrentados, e a necessidade de encarar esta discussão sem disputas, mas sim buscando as melhores alternativas para o bem comum.



Resumo do evento feito por Élida Silva – Aluna da UFAPE, estagiária da Verakis.

Foto: Myriams-Fotos