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2021

Pescado proveniente da aquicultura e da pesca são iguais?

Última sessão do "Visão 360° no mundo dos alimentos" discute impactos da pesca vs aquicultura, sustentabilidade, rastreabilidade e transparência na cadeia de produção.

A última sessão de 2021 do evento “Visão 360° no mundo dos alimentos – convivendo com a controvérsia” foi sobre “Pescado proveniente da aquicultura e da pesca são iguais?”.

Tivemos a honra de receber no evento Cintia Miyaji, Juliana Galvão, Bruno Cerozi e Manuel Moreira.

Cíntia abordou os impactos da pesca e da aquicultura, mencionando que existem diversas modalidades de pesca, estando relacionadas e diferentes graus de impactos ambientais. Que os impactos ambientais podem ser medidos por meio do estado dos estoques pesqueiros, gerenciamento e governança da pesca, no que diz respeito ao estabelecimento e cumprimento das regras, presença da fiscalização, considerar que alguns petrechos causam danos enormes ao ecossistema (como a rede de pesca). No que diz respeito à aquicultura, podem auxiliar na promoção dos impactos ambientais a introdução de espécies exóticas no ambiente natural, conversão alimentar, origem da alimentação dos animais, geração de resíduos e efluentes. Entretanto, ela deixou muito claro que é fundamental trabalhar com a sustentabilidade, a fim de reduzir e tentar minimizar ao máximo os impactos causados. Cíntia deixou claro que acredita na pesca sustentável, por meio da tecnologia, que auxilia no controle e no gerenciamento de todos os fatores que geram impactos ambientais.

Brunno comentou que a utilização do termo pesca predatória está diretamente ligada à falta de sustentabilidade e a realização da pesca de forma ilegal. Para ele, para a prática ser sustentável, não predatória e com preservação dos estoques, só seria possível com a paralisação da pesca industrial, de forma que reforçou esse ponto ao final de sua apresentação. A falta de matéria orgânica proveniente dos dejetos do peixe devido a retirada dos animais do ambiente aquático e sua não reposição, resultaram no mesmo impacto nas mudanças climáticas que as ações antropogênicas. Brunno falou que o problema não é a pesca em si, mas o exagero da prática, a falta de fiscalização da legislação e forma ilegal de realiza-la, reportando apenas uma porcentagem da origem dos pescados e não sua totalidade. Para ele a aquicultura seria uma resposta para esse desafio, considerando que com a aquicultura sustentável é possível transformar nutrientes em matéria de peixe, com produção de peixe de qualidade e com menos impacto na natureza.

Juliana comentou que não acredita em uma visão unilateral, visto que em 2050 teremos quase 10 bilhões de pessoas para alimentar, então espera-se que a proteína aquática tenha um papel fundamental na promoção da segurança alimentar. Nesse sentido, a pesca e a aquicultura precisam trabalhar juntas, de forma sustentável. Para a pesca é fundamental o desenvolvimento de ferramentas que permitam gerar e gerenciar os dados dos estoques pesqueiros e da situação em que eles se encontram. Frente ao consumidor, frequentemente há escândalos com o pescado da aquicultura e da pesca, como por exemplo relatos de ilegalidade, fraudes e novas doenças. Dessa forma é essencial a transparência na cadeia, através da implementação de sistemas de rastreabilidade, fornecendo ao produto fidedignidade e provendo a confiança para o consumidor. Como mensagem final, Juliana resumiu que para que o consumidor tenha acesso ao pescado sustentável é fundamental tanto na pesca quanto na aquicultura a transparência na cadeia (com todas as informações acessíveis para todos os elos da cadeia – uso de tecnologia), rastreabilidade e certificado de sustentabilidade.

Manuel comentou que tanto a pesca extrativa quanto os peixes proveniente da aquicultura possuem suas vantagens e desvantagens e que é adepto aos dois modos de obtenção. Que aquicultura de forma sustentada, com projetos bem estruturados, acompanhados e monitorizados é um ótimo exemplo de como criar peixes de forma sustentável, mas nem todos são realizados desta forma. A empresa Ramirez, a qual Manuel faz parte, atua de forma secundária no ramo da pesca, apenas com o processo de produção e não com a obtenção dos peixes em si, mas mesmo desta maneira possuem ações que contribuem para que a sustentabilidade ocorra. Alguns exemplos são a compra de peixes apenas da pesca ilegal e regularizada, a não compra de zonas de sub-pesca, aquisição apenas de pesca sem uso de armadilhas e os cuidados para a obtenção dos selos de garantia. Manuel ainda reforça ao final de sua apresentação que o consumidor deve exigir os selos em seus produtos para que possa ter consciência que realizou uma compra com transparência e honestidade em toda a cadeia produtiva.

Assista na íntegra da discussão no Canal Verakis no YouTube

Conheça os participantes

Cintia Miyaji é bióloga, Mestre e Doutora em oceanografia biológica pela USP, é fundadora da Paiche Consultoria e Treinamento, na qual busca trabalhar com a cadeia do pescado através da promoção de diálogo e conhecimento sobre pesca sustentável e consumo responsável de pescado. A Paiche integra a Global Seafood Ratings Alliance, o Global Hub da Conservation Alliance for Seafood Solutions e a iniciativa Open Tuna.

Juliana Galvão é bióloga, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Doutora em ciências pela Esalq/USP. Especialista em Fisheries Training Program (UNU-FTP) / Quality Management of Fish Handling and Processing. Atualmente é especialista e pesquisadora do departamento de Agroindústria, alimentos e nutrição na ESALQ/USP e coordenadora do grupo de estudos e extensão em inovação tecnológica e qualidade do pescado – GETEP.

Brunno da Silva Cerozi é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Ciências pela USP, Doutor pela University of Arizona. Atualmente é Professor Doutor lotado no Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo. Especialista no uso múltiplo da água em sistemas de aquicultura-agricultura integrados (Aquaponia), atuando especificamente nos temas balanço de massa e dinâmica de mineralização de nutrientes.

Manuel Moreira é Export Sales Director da Ramirez, uma empresa multinacional e referência na área de pescado.

E fique atento que em 2022 tem mais discussão!