10
.
12
.
2021

PATRIMÔNIO ALIMENTAR DO POVO XERENTE E SUAS INTERFACES COM O TURISMO GASTRONÔMICO

Luana Oliveira estuda salvaguarda do patrimônio alimentar Xerente através do turismo.

“O patrimônio alimentar é constituído de elementos materiais e imateriais pertencentes a determinado grupo, o qual é responsável pela sua construção social e transmissão para as gerações futuras.” (Luana de Sousa Oliveira, 2021).

“No intuito de valorizar e salvaguardar o patrimônio alimentar do Povo Xerente, um dos 305 povos indígenas que habitam o território brasileiro, e considerando que o turismo é um dos vetores de valorização e salvaguarda das culturas alimentares”, Luana de Sousa Oliveira, estudou e defendeu sua tese de doutorado analisando maneiras que o turismo étnico indigena gastronômico pode colaborar para a tal valorização e salvaguarda do patrimônio alimentar desse povo.

Luana de Sousa Oliveira foi convidada doPapo à Mesa” Verakis em outubro de 2021 para apresentar a sua tese de doutorado “Patrimônio Alimentar do Povo Xerente e suas Interfaces com o Turismo Gastronômico”.

Ela contou um pouco sobre a sua relação com a comida, que teve início no seio da sua família, na qual a avó foi cozinheira durante a vida toda, assim como seu pai, que é cozinheiro e referência na culinária amazônica, além de organizar eventos gastronômicos com foco na base indígena, onde Luana auxiliava nas pesquisas, cultivando esse interesse em trabalhar com povos indígenas.

No doutorado ela teve a oportunidade de conhecer um Xerente que abriu as portas para que ela pudesse desenvolver a sua tese ao lado do Povo Xerente. A pesquisa de campo ocorreu de dezembro de 2018 a abril de 2020, passando por 3 aldeias do Povo Xerente, duas das mais populosas com cerca de 400 a 500 indivíduos e uma menor com cerca de 20 moradores, e se localizam a aproximadamente 80 km do município de Palmas, dentro de uma reserva de terra indígena remarcada.

Luana apresentou o objetivo geral da tese, que é analisar maneiras que o turismo pode colaborar para a valorização e salvaguarda do Patrimônio Alimentar do Povo Xerente e as opiniões desse povo quanto à possibilidade de desenvolver turismo em suas aldeias, deixado claro que eles não têm atividades turísticas, o que existe, são dois projetos em andamento para desenvolver o turismo nessas aldeias.

A mesma trouxe um conceito de Patrimônio Alimentar pela Antropóloga Francesa Kats:

“PATRIMÔNIO ALIMENTAR É ALGO QUE DEVA SER TRANSMITIDO DE UMA GERAÇÃO A OUTRA, DE CARÁTER COLETIVO, PRÓPRIO A UM GRUPO SOCIAL, QUE POSSUA UMA CARGA SOCIAL, SIMBÓLICA OU AFETIVA, E SEJA REIVINDICADO POR PESSOAS PERTENCENTES A ELE (KATS, 2016).”

Desde o início, a ideia da tese foi registrar o que eles reconhecem como patrimônio alimentar, e não determinar a partir do próprio olhar, além disso, apresentou uma crítica presente em seu trabalho, muitas vezes, alguns trabalhos acabam fazendo com que os patrimônios se enquadrem naqueles padrões pré-estabelecidos. Apesar do Povo Xerente não ter “patrimônio” na sua língua materna, eles entendem o que é cultura e também entendem que a cultura é feita de elementos materiais e imateriais. Luana faz parte de autores que defendem que o turismo étnico indígena deve ser gestado pela própria comunidade para que possam gerar impactos positivos e que essa comunidade tenha plena autonomia sobre o que ela quer ou não desenvolver no seu território.

O POVO XERENTE:

São denominados de povos das duas metades, estão localizados no estado do Tocantins, com duas reservas demarcadas, o Povo Xerente se autodenomina “Akwe” que significa “gente”. Eles pertencem ao tronco linguístico Macro-Jê, que é uma das formas de identificação dos povos indígenas e fazem parte do grupo dos Gê-centrais. As duas metades são chamadas de “Wahire” que significa “lua” e a metade “Doi”, que quer dizer “sol”, e são identificados pela pintura corporal. Hoje estimasse que tenham entre 4 a 5 mil habitantes distribuídos em 85 aldeias dentro dos seus territórios.

Para falar do patrimônio alimentar do Povo Xerente, a partir dessa vivência com eles, foi elaborado um inventário. Segundo Luana, a comida para o Povo Xerente é de suma importância, além da questão da necessidade nutricional, a comida tem muitos valores simbólicos e faz parte de todos os rituais e cerimônias do nascimento a morte.

Por fim, as informações compartilhadas são inerentes ao Povo Xerente, e no Brasil temos 305 povos indígenas, ou seja, 305 culturas alimentares, cada povo indígena tem a sua cultura, não é certo falarmos “comida de índio”, visto que cada povo indígena tem sua cultura e seus costumes, além do mais, o termo “índio” deve ser trocado por “povos indígenas”, “povos originários” ou citar o nome de cada etnia.

Assista à apresentação completa:

“Patrimônio Alimentar do Povo Xerente e suas Interfaces com o Turismo Gastronômico” Tese de Doutorado apresentada no Papo à Mesa pela Doutora e Chef Luana de Sousa Oliveira, no dia 02 de outubro de 2021, está disponível no Youtube no link abaixo:

Escrito por Juliana Ayala – aluna da UFRJ, estagiária Verakis, Embaixadora do Papo à Mesa e do Verakis Conecta.

Tese de Luana de Sousa Oliveira : http://siaibib01.univali.br/pdf/Luana%20de%20Sousa%20Oliveira%202021.pdf

Imagem: Dois Krahó visitando os Xerente de David Maybury-Lewis, 1956