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2020

Os profissionais da área de alimentação e nutrição estão preparados para a revolução da comunicação digital?

Os canais digitais dedicados à nutrição são influentes e requerem estratégias adequadas de profissionais da área para disputar espaço com "leigos".

Os canais digitais (websites, páginas de redes sociais e blogs) dedicados à alimentação e nutrição tornam-se cada vez mais populares em nosso dia-a-dia e podem ter uma influência significativa nas escolhas alimentares, no consumo de alimentos e no estado de saúde da população. Muitos autores já destacam o protagonismo da internet na procura por informações sobe alimentação e nutrição (Heuberger e Ivanitskaya, 2011; Dickinson, Watson e Prichard, 2018; Joulaei, Keshani e Kaveh, 2018).

Estes dados reforçam a necessidade que os profissionais da área têm de estarem presentes nos canais digitais e atuarem de forma correta na divulgação de informações relativas a alimentos e alimentação. No entanto, será que todos teriam conhecimento suficiente para criarem uma estratégia nos canais digitais? A presença em canais digitais vai além do conhecimento técnico e domínio da área das ciências dos alimentos, é necessário um plano estratégico adequado com definições de público alvo, persona, tom de comunicação, identidade visual, linhas editorias de postagens e uma rotina de controle de métricas para avaliar performance. Com certeza, estes não são tópicos ensinados nos cursos da área de alimentos e nutrição, mas são essenciais para o sucesso de um canal digital, seja de blog, site ou rede social.

Outro ponto importante é que, por falta de uma boa estratégia de comunicação e marketing, os canais digitais geridos por profissionais do setor, acabam por ter menor alcance em relação a outros canais geridos por “leigos”. Schneider, McGovern, Lynch e Brown (2013) encontraram em seu estudo que blogs alimentares geralmente não são de autoria de pessoas qualificadas para fornecer conselhos de nutrição, e que a maioria dos blogueiros escrevem por causa de sua paixão por comida. Assim, o consumidor passa a ser influenciado potencialmente por outros canais que não os geridos pela comunidade científica ou agências federais, de forma que a população em geral está mais propensa a aceder, interpretar e usar informações errôneas sobre esses tópicos, apesar dos esforços dos profissionais da área de nutrição.

Adriano Andreghetto é formado em Ciências dos Alimentos pela ESALQ/USP e Mestre em Marketing Digital pela Universidade Europeia (Lisboa) cujo tema da dissertação é “A procura por informação sobre alimentação saudável nos media digitais”. Vive em Portugal desde 2017 e é atualmente responsável pelas ações de Marketing Digital da Verakis. Durante sua carreira já trabalhou com projetos nas áreas de sustentabilidade e desperdício de alimentos, com projetos em Portugal, Suíça e Alemanha.

Bibliografia

Dickinson, K M., Watson, M.S., & Prichard, I. (2018). Are Clean Eating Blogs a Source of Healthy Recipes? A Comparative Study of the Nutrient Composition of Foods with and without Clean Eating Claims. Nutrients, 10(1440), 1-10. doi:10.3390/nu10101440.

Heuberger. R.A. & Ivanitskaya, L. (2011). Preferred sources of nutrition information: contrasts between younger and older adults. Journal of Intergenerational Relationships, 9(2), 176-190. doi: 10.1080/15350770.2011.567919.

Joulaei, H., Keshani, P., & Kaveh, M. H. (2018). Nutrition literacy as a determinant for diet quality amongst young adolescents: a cross sectional study. Progress in Nutrition, 20(3), 455-464. doi: 10.23751/pn.v20i3.6705.

Schneider, E.P.; McGovern, E.E.; Lynch, C.L., & Brown, L.S. (2013). Do food blogs serve as a source of nutritionally balanced recipes? An analysis of 6 popular food blogs. Journal of Nutrition Education and Behavior, 45(6), 696–700. doi: 10.1016/j.jneb.2013.07.002

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