Na maior cidade do país, a maior central de abastecimento de frutas, hortaliças, flores e pescado da América Latina não parou depois do início da quarentena declarada pelo governo do Estado de São Paulo, no 23 de março de 2020, para evitar a possível contaminação ou propagação do COVID-19.
No Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e 12 mil veículos, comercializando produtos vindos de 1.500 municípios de 22 estados brasileiros e também de 19 países, uma comercialização média mensal de 283 mil toneladas.
O Entreposto Atacadista é considerado serviço essencial, e devido a isto, as atividades de rotina foram mantidas com algumas adequações:
- Criação de um grupo de trabalho para elaboração de um plano de contingência – COVID-19 com as recomendações do Ministério da Saúde, Ministério de Economia e Vigilância Sanitária.
- Elaboração de um Guia, em parceria entidades do setor, com recomendações para Boas Práticas de funcionamento de feiras livres.
- Reuniões diárias por videoconferência do Diretor Presidente da CEAGESP com as diretorias e gerências, com posterior visita a setores do mercado atacadista para verificar necessidades.
- Adoção de Home Office para funcionários das áreas administrativas, e para as áreas essenciais (limpeza, portaria, fiscalização e segurança), liberação de Home Office para os funcionários do grupo de risco.
- O serviço de Cotação de Preços foi suspenso inicialmente, e depois adequado para garantir a segurança dos pesquisadores da CEAGESP e dos atacadistas. As entrevistas agora são realizadas por telefone e aplicativo de mensagem, com divulgação posterior do boletim em dois dias da semana.
- Intensificação da frequência de lavagem do entreposto com hipoclorito de sódio e peróxido de hidrogênio, contando com o apoio de caminhão pipa extra.
- Pulverização de composto a base de peróxido de hidrogênio, produto de ação desinfetante nas plataformas, corredores, entornos dos pavilhões e ruas da CEAGESP.
- Instalação de 10 novas estações para higienização das mãos com água corrente, sabão líquido e papel toalha em locais estratégicos.
- Cartazes com orientações para lavagem correta das mãos com água e sabonete líquido e aplicação de álcool gel.
- Disponibilização de cartazes e carro de som no entreposto, para disseminar as informações sobre o Coronavírus.
- Entrega de material impresso informativo sobre o Coronavírus e aplicação de álcool gel para higienização das mãos dos motoristas que adentram no entreposto.
- Orientações para os compradores realizarem as compras com rapidez evitando aglomerações, se possível contatarem antes os vendedores utilizando aplicativos de mensagem para maior agilidade.
Devido às medidas restritivas no Estado de São Paulo para funcionamento de bares e restaurantes da capital, foi verificada mudança no perfil do comprador e de volume de produtos adquiridos.
Os dias da semana de maior movimento se mantiveram (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira).
Com a diminuição do volume de compras por restaurantes, distribuidores, feirantes e demais segmentos afetados, os supermercados e lojas de hortifrutigranjeiros aumentaram o seu volume de compras.
A população está preferindo nas poucas saídas, ir a um local onde consegue encontrar uma variedade de produtos, em vez de ir à feira-livre ou lojas voltadas para a venda de hortifrútis.
O setor de hortaliças folhosas foi o que mais sofreu, pois os maiores clientes são restaurantes e feirantes, cujas atividades estão parcialmente suspensas.
Os preços no atacado, não mostraram mudanças significativas, apenas as decorrentes da sazonalidade, clima, variação cambial e procura. Verificou-se também uma tendência de redução de preços em razão da retração gradativa da demanda.
O Banco de Alimentos da CEAGESP considerado também área essencial, manteve sua rotina diária para realizar seu importante trabalho no combate a insegurança alimentar. Neste período delicado em que nos encontramos, a CEAGESP intensificou as ações de conscientização e sensibilização através do uso de redes sociais e cartazes no entreposto, reforçando a importância de não se jogar fora os alimentos, mas sim doá-los, caso a venda não seja efetuada. O objetivo maior é fazer com que todas as famílias atendidas pelo Bancode Alimentos não deixem de ter na mesa o seu prato de comida. Dentro das novas estratégias de trabalho, o Banco de Alimentos em breve irá publicar uma cartilha com informações e orientações sobre alimentação, conservação e uso de frutas e hortaliças. A cartilha também irá incentivar a culinária simples, mas de afeto (Confort Food), para garantir que aquele que receber o alimento, também seja despertado para o comer consciente.
O Varejão da CEAGESP manteve suas atividades, porém nos primeiros dias após o decreto verificou-se um movimento fraco, mas que foi aquecendo ao longo dos varejões seguintes. Para um controle maior e evitar a contaminação e disseminação da COVID-19, degustações foram suspensas e os serviços de alimentação como pastéis, lanches, espetinhos, etc funcionaram apenas para delivery ou retirada, ficando assim proibido o consumo no local.
A Feira de Flores teve suas atividades suspensa por tempo indeterminado. Houve expressiva redução no volume de vendas pois este setor está diretamente ligado a eventos, que devido a quarentena, apresentaram cancelamentos: casamentos, aniversários, confraternizações.
O Setor de Pescado teve sua rotina alterada, com redução dos dias de comercialização, apenas terças, quintas e sábados para redução de riscos e custos dos compradores e atacadistas. A tradicional Santa Feira do Peixe foi cancelada este ano por ocasião da quarentena. O setor porém, tem apresentado bom volume de vendas devido á época da quaresma
Todas as ações realizadas no entreposto da Capital, também estão sendo aplicadas nos entrepostos da CEAGESP do interior de São Paulo.
Fabiane Mendes da Camara – São Paulo, 08 de abril de 2020.
Fontes:
https://www.saopaulo.sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/03/decreto-quarentena.pdf
Fabiane Mendes da Camara, é um dos correspondentes Verakis para acompanhar a evolução do setor dos alimentos durante a Pandemia do COVID-19. Ela é Engenheira de Alimentos pela UFFRJ, Mestre e Doutora em Ciência de Alimentos pela ESALQ/USP; atualmente é Engenheira de Alimentos da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP, trabalha com pesquisa, ensino e extensão com ênfase em Tecnologia e Pós-Colheita de Frutas e Hortaliças, Análises físico-químicas e sensoriais, Comercialização de Frutas e Hortaliças in natura, Alimentação Escolar, Segurança Alimentar e Sistemas de Gestão da Qualidade, é co autora do Projeto Hortiescolha do Ceagesp (http://www.ceagesp.gov.br/entrepostos/servicos/hortiescolha/).
Fotografia: Lilian Uyema Mateus