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2021

O Natal Lusófono

Explora a celebração do Natal em países lusófonos e a riqueza cultural da Lusofonia, dos pratos tradicionais às peculiaridades locais.

A Lusofonia é a denominação dada aos países que tem o português como língua oficial ou dominante, abrange não só Portugal, mas também aqueles países de colonização portuguesa, como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu e por diversas pessoas e comunidades em todo o mundo.

Existe também a “A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é o foro multilateral privilegiado para o aprofundamento da amizade mútua e da cooperação entre os seus membros. Criada em 17 de Julho de 1996, a organização tem dentre seus objetivos : a cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social; e a materialização de projectos de promoção e difusão da língua portuguesa.”

A palavra é a união de “luso”, que do latim quer dizer “relativo a lusitano” e “fonia”, que vem do grego e é equivalente a “língua”, porém não diz respeito apenas ao idioma, está ligada a cultura, a política e a economia em comum nesses países.

Nesse Papo à Mesa intitulado “O Natal Lusófono”, convidamos parceiros Verakis da Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe para apresentar um pouco de como é a ceia de natal nesses países lusófonos.

CABO VERDE

A Maria Teixeira foi a convidada para representar Cabo Verde, seu país de nascimento.

Ela iniciou contando que Cabo Verde é formado por 10 ilhas, e que cada uma preza por uma cultura diferente. Maria vive na Ilha Santiago, pertencente ao grupo do Sotavento, e explicou que o Natal lá é similar ao Natal de Portugal.

Costumam iniciar a ceia no dia 24 com uma entrada de queijos tradicionais de Cabo Verde, azeitonas e bolos, nos pratos principais são servidos bacalhau com natas, peru, frango assado, cabrito com ervilhas, produzido em Cabo Verde, mandioca e os acompanhamentos como arroz branco e salada, que não podem faltar.

De sobremesa é servido pudim feito com o queijo tradicional do país, “gelados” caseiros e bolo de chocolate. Maria ainda disse que o vinho não pode faltar, e que na casa dela é servido primeiro o vinho branco e depois o vinho tinto.

No dia 25, o natal é mais voltado para as crianças, que são levadas pra passear, como ir ao parque ou no jardim, ou é feita uma festa com muitas crianças, e tem um anúncio feito em casa onde é servido tudo o que sobrou da ceia do dia 24.

Não faltam alegria e festa!

PORTUGAL

Liliana Duarte e Álvaro Dinis Mendes foram os convidados para representar Portugal, responsáveis pelo restaurante Cor de Tangerina, em Guimarães.

Iniciaram apresentando os doces típicos da ceia de natal portuguesa, como o bolo-rei, que tradicionalmente possui em seu interior uma fava e uma estatueta bem pequena, ao comer o bolo, quem encontrasse a fava teria que pagar o bolo-rei, e quem encontrasse a estatueta se tornava o rei da festa, e outros doces como rabanadas, sonhos, aletria, “formigos” (doce feito de pão), “leite creme” (doce de ovos, açúcar e leite) e pudim de ovos.

Nos pratos salgados, geralmente no dia 24 é consumido o bacalhau, e algumas famílias consomem peru, já no dia 25 costumam fazer cabrito assado, com arroz, “grelos” e salada simples.

Na meia noite do dia 24 para 25 acontece a missa do galo, e a tradição é deixar cozinhando um arroz de frango para que seja consumido na ceia no retorno da missa.

Com as sobras do bacalhau é feita a “roupa velha”, os ingredientes são picados, misturados e regados com azeite, são consumidos no dia 25 para que não tenha nenhum desperdício.

Um Natal bem farto e mais introspectivo. Como bem lembraram os convidados, Natal no Hemisfério Norte é no inverno, e o frio pede um pouco mais de “recato”.

BRASIL

Natalie Ximenes, nascida em Mossoró no Rio Grande do Norte, foi a convidada para representar o Nordeste do Brasil. Como ela vive a 5 anos no sudeste do Brasil apresentou algumas diferenças presentes nas ceias de Natal dessas regiões, como a presença do peru, Natalie explicou que no Nordeste o peru é indispensável, além de ser regido de muito tradicionalismo.

As famílias mais antigas costumam criar o peru dentro de suas casas para consumir no natal, para o abate, costumam embebedar o animal com cachaça nordestina, acreditam que a cachaça deixa a carne mais macia e facilita a retirada das penas, durante esse momento de depenar, não se pode falar, deve ser feito em total silêncio, é uma tradição fortíssima que a pessoa fique completamente calada enquanto tira as penas do peru, pois se falar durante esse ato, dificulta a remoção das penas.

O papo do peru também é aproveitado, feito assado junto do peru e recheado com os miúdos. Além do peru, os pratos salgados costumam ser bacalhau, camarões e creme de galinha.

As sobremesas são relacionadas às frutas típicas da região como o doce de mamão com coco, e as frutas in natura, e também o pudim. Para as bebidas não pode faltar vinho, cachaça nordestina e sucos naturais das frutas da época.

A ceia é realizada no dia 24 com a tradicional troca de presentes à meia noite e no dia 25 no almoço, são consumidas as sobras do dia anterior.

E o Coca Cola sempre presente.

Foi muito interessante notar que as ceias do sudeste se “americanizaram” como tender e chester.

MOÇAMBIQUE

Para representar Moçambique, o convidado foi o Manuel Simbine, que nos apresentou o natal em 4 perspectivas, religiosa, cultural, social e comercial.

No contexto religioso, eles possuem a missa de aurora no dia 24, missa do galo na madrugada do dia 24 para 25 e a missa de dia já no dia 25.

No contexto cultural, eles possuem grande diversidade, o que muda a forma de celebrar o natal de região em região, Manuel citou como Moçambique possui muitas etnias e falam um pouco mais de 16 línguas moçambicanas dentro das regiões que se dividem em centro, norte e sul, onde Manuel vive.

No contexto social, o natal, o dia 25 de dezembro, também é o dia da família para a sociedade moçambicana, presente no calendário civil, então as famílias se encontram para festejar o natal no dia 24 e o dia da família no dia 25 após a missa ao meio dia.

Os alimentos que nunca faltam são o frango, peixe grelhado, feijoada, verduras típicas, matapa (folhas de mandioca com caranguejo), vinho e cerveja.

No contexto comercial, Manuel citou como o natal também é uma oportunidade para quem não é religioso, pois para o comércio é uma oportunidade de maior venda, e como os preços sobem.

Manuel finalizou comentando que para ele Natal é o nascimento do Menino Jesus, tempo de paz e esperança.

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Representando São Tomé e Príncipe, recebemos Abel Bom Jesus, que iniciou falando da similaridade com o que foi apresentado nos outros países como Portugal, Moçambique e Cabo Verde, porque também são pequenas ilhas colonizadas por Portugal, e possuem mais 3 línguas além do português.

Abel explicou que o Natal se diferencia entre famílias, não de tradição, mas da posse, pois nem todas as famílias possuem a mesma condição financeira, mas os costumes permanecem.

Os pratos principais consumidos na ceia de Natal é o calulu, uma comida de caldo feita com peixes defumados, folhas medicinais ou carne, o molho de peixe salgado, e com a globalização outros pratos chegam as mesas, como o peru, não é um costume, mas algumas casas já consomem.

Em São Tomé e Príncipe, o Natal é visto como o dia da família, no dia 24 para a comunidade religiosa católica eles possuem as missas, e no dia 25 é comemorado o natal, na qual as famílias se reúnem, e os pais são vistos como os presidentes do natal por serem os “cabeceiros” da família.

Por fim, Abel como ativista social, trouxe a reflexão de como algumas famílias tem muito e outras tão pouco e deixa claro, a luta para que todas as famílias tenham o mesmo acesso.

ANGOLA

Lersene Mota foi a convidada para representar Angola, e iniciou contando como o país é grande e possuí várias regiões.

Nesse Papo à Mesa, a mesma apresentou o Natal em Luanda, capital de Angola, que se inicia com a reunião familiar, na qual os filhos tem a obrigação de ir para a casa dos pais. Assim como em outros países, participam da missa do galo.

Antes da missa é servido o prato principal chamado calulu, que pode ser feito de carne ou peixe, o mais consumido é o de peixe, feito a partir de peixe fresco ou peixe seco e algumas casas fazem a mistura dos dois peixes, que são acompanhados de quiabo e folhas como a gimboa ou a rama de batata, e também é feito feijão com óleo de palma.

A comida geralmente é partilhada antes das 20 horas, em seguida é servida uma salada de frutas com frutas da época, como manga, abacaxi, banana, laranja, maçã e outras.

Também pode ser feito um cozido, que antigamente era muito utilizado o bacalhau cozido ao vapor, hoje já é feito assado no carvão, além de legumes cozidos no vapor e arroz de pato que possui chouriço, bacon e azeitonas e é servido com os grelhados como o peru, frango ou cabrito.

Outro prato típico citado foi o catato, um inseto comestível que é comprado no mercado, e que ao chegar em casa deve ser lavado muito bem para remover todo o carvão que é utilizado para matar esse inseto.

Em seguida deve ser fervido, e cozido com alguns temperos (cebola e tomate) ou mesmo sem os temperos acima citados. Lersene também contou que a bebida indispensável é a Cuca, uma cerveja nacional.

Foi um momento muito alegre e rico de troca de conhecimentos. E no final a Dra. Juliana Grazini, Diretora e Presidente da Verakis, agradeceu aos convidados e ouvintes e comentou que a lusofonia deveria sair do âmbito político e se espalhar entre os povos e sociedades lusófonos, para que com o que temos de comum, o idioma, nos uníssemos e criássemos força para mudar uma parte do mundo.

E finalizamos desejando um Feliz Natal aos que o comemoram.

Assista à apresentação completa:

“O Natal Lusófono” apresentado no Papo à Mesa no dia 18 de dezembro de 2021, está disponível no Youtube no link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=TcNEDN0XsDk

Escrito por Juliana Ayala – aluna da UFRJ, estagiária Verakis, Embaixadora do Papo à Mesa e do Verakis Conecta.