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2020

A emergência do trabalho colaborativo e político nos serviços de alimentação de São Paulo – Protagonismo do alimento nos momentos de crise

São Paulo está em quarentena desde 24 de março. A pandemia afeta trabalhadores e negócios de alimentação, que buscam alternativas para a crise.

Desde o dia 24 de março o Estado de São Paulo está oficialmente em quarentena pelo período de 15 dias, de acordo decreto nº 64.881, de 22 de março de 2020. A medida define o fechamento do comércio com exceção dos serviços essenciais de alimentação, saúde, bancos, limpeza e segurança.

Diferentemente do que ocorre em alguns países da Europa como Itália, França e Espanha, ao menos por hora, as orientações estaduais paulistas priorizam o distanciamento social, não o isolamento.

Os impactos ocasionados pela pandemia da Covid-19 têm contornos nebulosos quanto aos aspectos sociais. Existe uma parcela considerável da classe trabalhadora do país que, com o distanciamento social, pode ficar sem sua fonte de renda principal.

Por outro lado, serviços de alimentação do Estado de São Paulo estabeleceram o Movimento S.O.S Bares & Restaurantes em parceria com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

O grupo apresenta que o impacto do distanciamento social (imperativo no contexto da pandemia) nesses tipos de estabelecimentos coloca também em risco a empregabilidade de um segmento que envolve 6 milhões de trabalhadores.

Segundo carta aberta assinada pelos membros do setor em 25 de março de 2020, há urgência no estabelecimento de medidas de apoio por parte das esferas federal e bancária para que não haja o colapso total dos negócios durante a quarentena. O pleito inclui crédito para capital de giro, doze meses de carência para o primeiro pagamento, taxas de juros próximas à selic, longo prazo para pagar (acima de 48 ou 60 meses), empréstimos com fundo garantidor do Governo e não com garantias do empresário de bares e restaurantes, tudo isso sem CND – certidão negativas de débito – e prorrogação/renegociação das operações de crédito já contratadas com juros iguais ou menores dos já praticados (carência de 12 meses).

Individualmente, restaurantes, bares e pequenos mercados de São Paulo estão também adotando práticas próprias para se manterem em funcionamento, em consonância com as orientações sanitárias e de saúde aplicadas ao momento:

  • Foco na entrega via serviço de plataformas digitais (delivery) ou com retirada no local (take-away), previamente agendada;
  • Incentivo ao mercado local pela criação de perfil de rede social do bairro, o qual é atualizado diariamente quanto às opções de restaurantes disponíveis para pedido de refeição e suas condições de entrega ou retirada, evitando-se aglomerações;
  • Assinaturas de pacotes de refeições semanal, com entrega ou retirada previamente agendadas;
  • Venda de drinks engarrafados, com entrega ou retirada previamente agendadas;
  • Voucher para consumo futuro, após o término do distanciamento social oficial;
  • Compartilhamento da rede de fornecedores e pequenos produtores para que os clientes possam comprar diretamente alimentos frescos de alta qualidade;
  • Feira virtual de ingredientes frescos, com entrega ou retirada previamente agendadas;
  • Realocação temporária da trabalhadores do salão em atividades em supermercado.

A necessidade da gestão dessa crise tem feito emergir um trabalho colaborativo e político para a perpetuação coletiva de negócios de alimentação. Essas práticas buscam manter um giro mínimo de vendas para suprir custos essenciais de manutenção dos negócios e, principalmente, os empregos.

O protagonismo da alimentação em momentos de crise nos impõe a transformação nas relações de parceria público e privada e nos processos e nos modelos de negócios no setor de alimentos com práticas que incluam, verdadeiramente, o direto à vida e à saúde para todos.

Paula Feliciano para Fundação Verakis – São Paulo, 30 de março de 2020.

Paula de Oliveira Feliciano é uma das correspondentes Verakis para acompanhar a evolução do setor dos alimentos durante a Pandemia da COVID-19. Ela é mestre em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB/USP, graduada em Gastronomia e pós-graduada em Docência para o Ensino Superior. Atua como chefe de Projetos Verakis Brasil e como professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Gastronomia no Centro Universitário Senac Campos do Jordão. Em 2018, passou pelo programa de estágio da Fundació Alícia/Espanha, centro de pesquisa em cozinha, sustentabilidade e impacto social. E, em 2019, pelo Observatori d’Alimentació da Universitat de Barcelona (ODELA-UB), desenvolvendo atividades na linha de pesquisa turismo gastronômico.

Fontes:

ESTADO DE SÃO PAULO. decreto nº 64.881, de 22 de março de 2020. – https://www.saopaulo.sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/03/decreto-quarentena.pdf

Movimento S.O.S Bares & Restaurantes, carta aberta – https://abrasel.com.br/noticias/noticias/bares-e-restaurantes-pedem-ajuda-aos-bancos-para-que-setor-nao-sofra-um-colapso-total/

Contador de Desemprego em Bares e Restaurantes (ABRASEL)- https://www.contadordedesemprego.com.br/