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2021

Turismo gastronômico : cultura, comércio e sociedade.

Gastronomia como patrimônio cultural e sua importância no turismo gastronômico, abordados por Lucy M. Long.

A gastronomia é vista como resultado da expressão cultural de uma sociedade junto com simbolismos, e é formada ao decorrer da história de um grupo social, tornando-a num patrimônio cultural.

Lucy M. Long, na pensata ‘’Política cultural no turismo gastronômico com alimentos étnicos’’ autora explica a relação do turismo gastronômico com políticas culturais e a problemática envolvendo esses assuntos.

Antes de mais, o ato de se alimentar apesar de ser uma necessidade biológica, é determinado pelo campo sociocultural, como maneira de expressão derivada das necessidades geográficas e atrelada à sobrevivência, saúde, dieta, religião e cultura de um lugar, originando a construção do paladar e, mais além, da gastronomia.

No final dos anos 1990 e 2000, segundo Lucy Long, o turismo gastronômico passou a ter maior destaque e logo ganhou espaço no mundo dos negócios, tornando-se uma prática rentável nos anos posteriores, com o aumento do interesse nas experiências gastronômicas e alimentos étnicos viagens de turismo, visitas aos restaurantes especializados, eventos e feiras tradicionais, aulas culinárias, estabelecimentos ou passeios que oferecessem essa troca cultural.

Assim, a culinária como cultura provoca curiosidade nas pessoas, e vinculada ao turismo, é tratada como maneira de saciar esses desejos, além de propagar status e classe social.

A comida étnica como fator decisório cria-se o termo ‘’Turismo Gastronômico’’ compreendido como uma subcategoria do próprio turismo cultural ou até um fragmento dessa atuação. Esse tipo de turismo visa à concepção de regionalidade, valorizando a culinária local e, nessa lógica, notabiliza-se que a regionalização dá suporte a comunicação e marketing do local, em razão de que se a gastronomia é vinculada a um determinado país ou região, ela transforma-se em um potente instrumento de promoção e comercialização.

Para Lucy Long as políticas culturais preestabelecidas as quais tais insumos ou práticas culinárias recebem seu devido valor. Os empreendimentos e as pessoas envolvidas com a gastronomia passam então a lidar com as exigências do negócio quanto à natureza dos alimentos e da relação de poder, uma vez que não comercializam apenas matéria-prima. Muito mais que isso comercializam experiências que sombolizadas emocionalmente em grupos sociais, e da própria narrativa em si.

Alimentos étnicos, ou seja, ingredientes e pratos particulares de uma cultura diferente da dominante, também têm importância na identificação dos alimentos do ponto de vista comercial e social, e na diplomacia culinária ligada ao poder efetivamente.

Incluindo todos esses princípios e ressaltando a variedade de interpretações dessa problemática, a questão do poder deve ser lembrada, isto é, quem possui domínio para aplicar essas decisões e por quê.

Lucy Long acredita que se relacionarmos a identidade étnica ao turismo gastronômico validamos a complexidade desses conteúdos. Os patrimônios culturais imateriais da gastronomia diferenciam-se daqueles materiais tradicionais, pois evoluem e manifestam junto com sua cultura, por isso, deve-se considerar o surgimento de novos hábitos e identificar a culinária tradicional como evolução.

O setor do turismo gastronômico precisa distinguir a diversidade envolta, consentindo e respeitando diferentes pontos de vista.

De uma maneira simplificada, embora haja uma extrema importância regional, social, cultural e econômica ligada ao turismo gastronômico é imprescindível avaliar as dificuldades que isso e as políticas culturais acarretam na sociedade.

Vale salientar que os alimentos são heterogêneos, ligados a outros fatos da vida, por isso detêm inúmeros conceitos.

Admitir essa complexidade étnica é importante, visto que formam sentimentos e interpretações diversas, que a culinária somente não é capaz de traduzir.

Faz-se necessário identificar essa pluralidade, possibilitando que as várias opiniões sejam respeitadas, pois resumir e limitar a história de um país ou região a um prato, ou ingrediente torna o local despretensioso culturalmente.

Texto: Giovana Vieira da Silva

Curadoria e edição de texto: Paula de Oliveira Feliciano

Edição/popularização científica: Juliana T. Grazini dos Santos

Giovana Vieira da Silva é aluna do curso de graduação em Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário Senac Campos do Jordão e escreveu esse texto como uma atividade da matéria Estudos Contemporâneos de Gastronomia. A publicação integra proposta de aprendizado sobre popularização e difusão científica das ciências dos alimentos e alimentação da Fundação Verakis com o Centro Universitário Senac Campos do Jordão.

Paula de Oliveira Feliciano é mestra em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB/USP, graduada em Gastronomia e pós-graduada em Docência para o Ensino Superior. Atua como chefe de Projetos Verakis Brasil e como professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Gastronomia no Centro Universitário Senac Campos do Jordão. Em 2018, passou pelo programa de estágio da Fundació Alícia/Espanha, centro de pesquisa em cozinha, sustentabilidade e impacto social. E, em 2019, pelo Observatori d’Alimentació da Universitat de Barcelona (ODELA-UB), acompanhando atividades na linha de pesquisa turismo gastronômico.

Juliana T. Grazini dos Santos – Doutora em Informação e Comunicação/Jornalismo Científico/Popularização Científica pela Universidade de Paris 7(Denis -Diderot), vive há mais de 20 anos na França, onde pesquisa e desenvolve trabalhos de jornalismo científico, popularização da ciência e comunicação nas áreas de alimentos, alimentação e nutrição; presidente da Verakis (França), conceptora e diretora do curso de Especialização em Marketing de Alimentos Verakis (Europa); membro do grupo de estudos de informação ao consumidor do Fundo Francês para Alimentação e Saúde (FFAS) e curadora de cursos na área de alimentos e alimentação na Europa, América Latina e Brasil.

Referência

LONG, Lucy M. Política cultural no turismo gastronômico com alimentos étnicos. Revista de Administração de Empresas, v. 58, n. 3, p. 316-324, 2018.

Propostas de leitura

FERRO, Rafael C. Gastronomia e Turismo cultural: reflexões sobre a cultura no processo do desenvolvimento local. Contextos da Alimentação–Revista de Comportamento, Cultura e Sociedade, v. 2, n. 2, 2014.

GÂNDARA, José Manoel Gonçalves; GIMENES, M. H. S. G.; MASCARENHAS, R. G. Reflexões sobre o Turismo Gastronômico na perspectiva da sociedade dos sonhos. Segmentação do mercado turístico–estudos, produtos e perspectivas. Barueri: Manole, p. 4-27, 2009.

PECCINI, Rosana. A gastronomia e o turismo. Rosa dos Ventos-Turismo e Hospitalidade, v. 5, n. 2, 2013.

Y HELIO, Lize Maria Soares Barroco; BARROCO, Estrela. A IMPORTÂNCIA DA GASTRONOMIA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL, NO TURISMO BAIANO,2008.

Imagem: veerasantinithi