Atualmente o Brasil possui aproximadamente trezentas espécies de abelhas nativas sem ferrão (ASF) ,ou conhecidas também como abelhas indígenas, que além de sagradas para alguns povos, cada espécie possui um mel muito singular com maiores benefícios se comparadas ao produto das abelhas com ferrão, as Apis melíferas.
Cada região do Brasil possui diferentes espécies, que se adaptam a um tipo de clima, temperatura e até mesmo a fauna e a flora disponíveis. Cada uma ralizando o incansável e formidável trabalho de polinizar.
Na Região Norte pode ser destacada a Uruçu Cinzenta (melípona fasciculata), na Região Nordeste a Uruçu Nordestina (melípona scutellaris), na Região Centro Oeste a Uruçu Boca de Renda (melípona seminigra), e na Região Sudeste a Jataí (tetragonisca angustula) e na Região Sul a Guarupu (melípona bicolor).
Vilarino (2020) defende que estes insetos, no geral, possuem alto poder de polinização de diversas culturas economicamente importantes, como por exemplo morangos e tomates. Com a interferência das abelhas, o resultado em padronização, aumento de dulçor e tamanho do fruto é extremamente positivo.
Segundo a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) (2018), diversas frutas, sementes e castanhas brasileiras são de 90% a 100% dependentes do serviço de polinização, especialmente de abelhas nativas, como ocorre com a goiaba, caju, castanha do Brasil, cupuaçu, açaí, por exemplo.
Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), as ASF são responsáveis por polinizar de 30% até 60% da área da caatinga e pantanal, e até 90% da mata atlântica, onde podem ser encontradas mais de duzentas espécies deste tipo e mais de trezentas variedades de plantas.
Fica evidente que estes seres polinizadores são agentes que contribuem diretamente para a preservação da vida humana, vegetal e animal.
Com o aumento e a busca do conhecimento sobre a real importância das abelhas para o planeta, um exemplo a ser seguido fica na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo.
O meliponicultor Reginaldo Silva, em parceria com dez escolas estaduais e municipais, criou um projeto para levar um laboratório vivo dentro do ambiente escolar, para que os alunos, por meio de palestras e práticas, possam conhecer e se conscientizar por intermédio do meliponário (local de criação de abelhas nativas). A Escola Estadual Professor Nelson do Nascimento Monteiro tem três colônias de ASF espalhadas pela escola, em locais apropriados.
As espécies nativas podem ser criadas e manejadas por qualquer pessoa (inclusive crianças e alérgicos), assim como em qualquer lugar (casas, apartamentos, grandes centros urbanos,), pois são de fácil manejo, e encontradas nos mais diversos lugares da natureza, como árvores ocas, cupinzeiros, pedras. A construção das colmeias são características marcantes destes insetos, pois constroem suas moradias com pedaços de madeira morta, barro, areia, folhas, flores e cada espécie mantém seu estilo particular, tanto dentro quanto fora da colmeia (SILVA, et al., 2014).
Em vista das dificuldades de comercialização dos meles de abelhas nativas, criou-se recentemente a Resolução SIMA Nº 11 de 03 de fevereiro de 2021. Ela “cria a categoria de empreendimento de fauna silvestre “Meliponário” e dispõe sobre os procedimentos autorizativos para o uso e manejo de abelhas-nativas-sem-ferrão no Estado de São Paulo que envolvam espécimes e colônias para fins de atividades socioculturais ou exposição voltada à educação ambiental, de comercialização de produtos ou subprodutos e serviços de polinização, de atividade de ensino, de pesquisa científica e de conservação.
A frase Einstein, citada no livro “Não Deixem Morrer as Abelhas” de Frank Littlewall, diz que se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade teria apenas mais quatro anos de existência, pois sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora e sem flora não há animais e sem animais não haverá raça humana.
Torçamos então para que mais projetos de conscientização sejam implantados, e que não percamos as nossas “amigas” abelhas, tão importante para “GAIA” e para os humanos.
Texto: Brenda Helem Reis Rodrigues e Diego Augusto de Carvalho
Curadoria e edição de texto: Paula de Oliveira Feliciano
Edição/popularização científica: Juliana T. Grazini dos Santos
Brenda Helem Reis Rodrigues e Diego Augusto de Carvalho são alunos do curso de pós-graduação em Cozinha Brasileira do Centro Universitário Senac Campos do Jordão e escreveram esse texto como uma atividade complementar à entrega do trabalho de conclusão de curso.. A publicação integra proposta de aprendizado sobre popularização e difusão científica das ciências dos alimentos e alimentação da Fundação Verakis com o Centro Universitário Senac Campos do Jordão.
Paula de Oliveira Feliciano é mestra em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB/USP, graduada em Gastronomia e pós-graduada em Docência para o Ensino Superior. Atua como chefe de Projetos Verakis Brasil e como professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Gastronomia no Centro Universitário Senac Campos do Jordão. Em 2018, passou pelo programa de estágio da Fundació Alícia/Espanha, centro de pesquisa em cozinha, sustentabilidade e impacto social. E, em 2019, pelo Observatori d’Alimentació da Universitat de Barcelona (ODELA-UB), acompanhando atividades na linha de pesquisa turismo gastronômico.
Juliana T. Grazini dos Santos – Doutora em Informação e Comunicação/Jornalismo Científico/Popularização Científica pela Universidade de Paris 7(Denis -Diderot), vive há mais de 20 anos na França, onde pesquisa e desenvolve trabalhos de jornalismo científico, popularização da ciência e comunicação nas áreas de alimentos, alimentação e nutrição; presidente da Verakis (França), conceptora e diretora do curso de Especialização em Marketing de Alimentos Verakis (Europa); membro do grupo de estudos de informação ao consumidor do Fundo Francês para Alimentação e Saúde (FFAS) e curadora de cursos na área de alimentos e alimentação na Europa, América Latina e Brasil.
Referências:
EMBRAPA. O desafio de preservar as “abelhas indígenas. 2014. [Online] 25 de 06 de 2014. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/1858794/o-desafio-de-preservar-as-abelhas-indigenas#:~:text=para%20a%20poliniza%C3%A7%C3%A3o-,As%20abelhas%20sem%20ferr%C3%A3o%2C%20segundo%20a%20pesquisadora%20F%C3%A1bia%20Pereira%2C%20s%C3%A3o,e%20manc> Acesso em jun 2021
FRANK, LITTLEWALL. 2015. Não Deixem Morrer as Abelhas: histórias de várias vida. Lisboa: Chiado Editora, 2015. (Citação no capítulo 25). Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=vpgvDgAAQBAJ&pg=PT54&dq=o+fim+das+abelhas+Einstein&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi74-nD56riAhVyIbkGHc5hCsYQ6AEINDAC#v=onepage&q=o%20fim%20das%20abelhas%20Einstein&f=false > Acesso em jun 2021.
PLATAFORMA BRASILEIRA DE BIODIVERSIDADE E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS (BPBS). Disponível em: <https://www.bpbes.net.br/ > Acesso em abr 2021.
Resolução SIMA Nº 11 de 03 de fevereiro de 2021. Cria a categoria de empreendimento de fauna silvestre “Meliponário” e dispõe sobre os procedimentos autorizativos para o uso e manejo de abelhas-nativas-sem-ferrão no Estado de São Paulo. Disponível em: <https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/legislacao/2021/02/resolucao-sima-no-11-2021/ > Acesso em abr 2021
RODRIGUES, Brenda Helem Reis; CARVALHO, Diego Augusto de. O trabalho com abelhas nativas realizadas nas Escolas Municipais e Estaduais de São José dos Campos – São Paulo. 2021. Trabalho de conclusão de curso. Centro Universitário Senac Campos do Jordão. Pós-graduação em Cozinha Brasileira.
VILARINO, CLEYTON. 2020. Revista Globo Rural. Aplicativo ajuda agricultores a encontrar abelha ideal para polinizar lavouras. Disponível em: https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2020/02/aplicativo-ajuda-agricultores-encontrar-abelha-ideal-para-polinizar-lavouras.html . [Online] Acesso em jun 2021.
Para saber mais:
ABEPOLI (Abelhas Polinizadoras sem Ferrão). Associação de meliponicultura do Vale do Paraíba paulista. Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCCWUjPcxZjNeGHPiXc8D3zQ/videos > Acesso em jun 2021
SILVA, CLÁUDIA INÊS DA, et al. 2014. Guia Ilustrado das Abelhas Polinizadoras no Brasil. [Online] 2014. http://www.semabelhasemalimento.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Guia_abelhas-polinizadoras_02_junho_2014-1_web.pdf.
Meliponário Jardim com Abelhas. Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCLezoE8jpiYMcIyX7_z_BdA/featured > Acesso em abr 2021
IMagem: mariananbu