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2024

Por que o Setor Agroalimentar Teme o Acordo Mercosul-UE

O setor agroalimentar europeu teme o acordo Mercosul-UE devido à concorrência desigual, impactos ambientais negativos e o risco de exploração de recursos naturais sem benefícios para as comunidades locais.

O acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul está sendo fortemente criticado, especialmente por agricultores. Depois de quase 25 anos de negociações, o tratado poderá ser assinado até o final deste ano, com pressão da Comissão Europeia, principalmente da Alemanha e Espanha. Essa possibilidade gerou protestos, com sindicatos agrícolas convocando manifestações em diversas partes da Europa.

1. Motivos do acordo
A UE busca acesso ampliado ao mercado do Mercosul, visando exportar produtos industriais como automóveis e equipamentos tecnológicos. Já os países do Mercosul dependem dessas exportações para crescer, embora existam também fatores políticos e culturais que dificultam a oposição ao acordo, especialmente pela necessidade de diversificar parcerias comerciais.

2. Impactos ambientais
O acordo pode agravar o aquecimento global, com aumento na produção e nas emissões de gases poluentes. No Mercosul, a demanda crescente por carne bovina pode incentivar o desmatamento, especialmente na Amazônia, intensificando as mudanças climáticas. Além disso, a indústria automotiva europeia se beneficiaria de um mercado latino-americano mais permissivo, favorecendo veículos poluentes.

3. Concorrência desigual
Agricultores europeus, especialmente pecuaristas, temem que a concorrência do Mercosul, com custos de produção menores, prejudique os produtores da UE. As diferenças nas normas ambientais e de saúde, como o uso de certos pesticidas, podem resultar em produtos mais baratos que inundem o mercado europeu.

4. Exploração de recursos naturais
O acordo também pode impulsionar a extração de minerais essenciais, como o lítio, no Mercosul, com sérias consequências ambientais e sociais. No Chile e na Argentina, a mineração intensiva consome grandes volumes de água, prejudicando as comunidades locais e os ecossistemas.

5. Críticas ao neocolonialismo
Críticos do acordo, como o coletivo Stop Mercosul, afirmam que ele aprofunda a dependência do Mercosul na exportação de recursos naturais, o que pode dificultar o desenvolvimento de indústrias locais. A exploração de recursos favoreceria principalmente grandes empresas estrangeiras, enquanto as populações locais arcam com os impactos sociais e ambientais.

Este acordo, portanto, levanta questões éticas, ecológicas e econômicas complexas, sendo visto por muitos como um passo em direção a um modelo de exploração desigual, com custos ambientais para a América Latina e benefícios econômicos para a Europa.

As críticas ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul não têm como objetivo atacar a América do Sul ou o Brasil, mas sim questionar as implicações econômicas, sociais e ambientais do tratado. As preocupações estão centradas nas condições desiguais de concorrência que podem prejudicar os agricultores europeus e nas potenciais consequências ambientais, como o aumento do desmatamento e da poluição. Além disso, o receio de que o acordo favoreça a exploração de recursos naturais à custa das comunidades locais na América Latina é uma crítica ao modelo de desenvolvimento e não à região em si. Portanto, o objetivo é garantir um comércio mais justo e sustentável, que beneficie todas as partes envolvidas, sem explorar as populações ou prejudicar o meio ambiente.

Fonte: Reporterre

Imagem : Freepik