A Festa de Sant’ana é a festa da padroeira da cidade de Caicó, principal cidade da região do Seridó, no interior do estado do Rio Grande do Norte.
Quando se fala dessa região tem-se uma imagem muito pessimista, de pobreza, seca e sofrimento, porém durante a época de final de julho, Caicó abriga, de acordo com os nordestinos, a maior e melhor festa de padroeiro.
Esse evento demonstra uma série de contrastes, da pobreza e fome retratadas na história local, que é do Sertão de modo geral, e uma abundância de comida, de festa, de alegria, durante as festas de padroeiros.
A festa de Sant’ana, que é um patrimônio imaterial do Brasil, comemora a Santa Sant’ana, avó de Jesus, representação principal do Seridó. No catolicismo popular as figuras femininas, em particular Sant’ana, ocupam um lugar de destaque, é a avó, figura da família e uma ocasião para se lembrar da história da fundação da cidade e da conquista do Sertão.
É momento de reencontro, de celebrar a família, a história e reatar laços que foram desfeitos. Sant’ana é uma santa doméstica e associada a ela tem toda a questão da família, da mesa e das comidas. Além de ser um momento de circulação da economia onde se consome produtos locais com em torno de 30 a 60 mil pessoas presentes no evento.
O que se come durante a festa é o que se come, de modo geral, no Sertão, é um estilo alimentar que é definido por muita comida, principalmente carnes, sendo a carne de gado a mais importante, e outras carnes como de carneiro e galinha, além dos doces.
Está diretamente ligada a comidas de raiz, associadas as plantas do local, como o milho, a batata doce e a mandioca. A festa de Sant’ana é um momento em que se consome o que colheu nas plantações.
A sociabilidade dos homens está ligada as carnes, principalmente ao churrasco feito na rua, com música e bebidas alcoólicas. Já a sociabilidade das mulheres é mais associada ao interior das casas e a produção de doces, além de cuidarem das crianças e das comidas de panela.
Como é uma sociedade que tem uma memória da fome, a preocupação com a alimentação é constante. A abundância de alimentos durante a Festa de Sant’ana é uma forma de afastar essa memória que é tão presente no inconsciente do coletivo. Além de muita hospitalidade, generosidade e solidariedade presentes no Seridó.
Assista à apresentação completa:
“Festa de Sant’Ana / Ostentação e excessos alimentares” apresentado pela Antropóloga Julie Cavignac no Papo à Mesa, no dia 02 de abril de 2022, está disponível no YouTube no link abaixo:
Escrito por Juliana Ayala – Embaixadora do Papo à Mesa.
Imagem: https://doity.com.br/forum-santana