Vários elementos diferenciam o artigo para o público do artigo científico.
Enquanto objetivo da popularização da ciência é compartilhar novas descobertas científicas com um grande público e encorajá-lo a adquirir uma certa cultura científica. O objetivo de um artigo científico é de comunicar entre pares, numa linguagem específica e especializada, com padrões bem definidos, para contribuir com o avanço da ciência.
O artigo científico destina-se aos especialistas que conhecem a área e se interessam pelos métodos de investigação científica dos investigadores, conhecem termos técnicos, precisam analisar características de amostras e métodos, sabem interpretar certos tipos de gráficos e tabelas, e precisam de um referenciamento bibliográfico específico. Isso porque é por meio destas leituras que o pesquisador alimenta seu intelecto para aguçar sua curiosidade, comparar suas pesquisas, saber o que outros estão fazendo para dar continuidade ou comparar algo, descobrir novos métodos, dentre outros.
O artigo popular dirige-se a um público vasto, mais ou menos familiarizado com a área e mais interessado em resultados e “curiosidades”, e que faz desta leitura um momento de lazer.
O artigo científico é um modelo de concisão e apresenta uma estrutura fixa estabelecida por uma longa tradição: apresentação do problema de pesquisa, metodologia utilizada, apresentação dos resultados, discussão, conclusão e referências bibliográficas para embasar as afirmações.
Em contrapartida, o artigo popular tem como objetivo contar uma história, a história de personagens humanos (pesquisadores) que fizeram pesquisas sobre um ou outro aspecto do campo científico, que encontraram algo importante para a sociedade e que querem passá-lo para o público geral.
Além disso, ao contrário do artigo científico, que se divide em seções, o artigo popular é dividido em episódios. Cada episódio relata um aspecto da pesquisa realizada de acordo com uma determinada cronologia, integrando, se necessário, os elementos do método, os resultados e a interpretação deste.
Como os destinatários têm pouco ou nenhum conhecimento da matéria científica de que trata, o redator ou editor deve certificar-se de reformular todos os termos técnicos que possam não ser compreendidos pelo público. E é neste trabalho de reformulação que acontece a “distorção da informação inicial”, como na brincadeira do “telefone sem fio”.
Essa distorção é, na maioria das vezes, espontânea e involuntária, inerente à adaptação da linguagem para que as informações se tornem compreensíveis para o público leigo.
Mais ou menos deturpadora de uma informação inicial, é ela que, frequentemente, causa muita insatisfação por parte dos pesquisadores quando veem seus argumentos e resultados apresentados de forma diferente em mídias destinadas ao grande público.
A relação entre a linguagem científica e a “grande publico” deve ser minuciosamente cuidada para que não haja distorções que impliquem na má compreensão da ciência. Porém, pesquisadores (fontes de informação para muitos popularizadores de ciência), devem compreender esta questão para que consigam ser mais tolerantes e avaliarem, honestamente, se, para o grande público, as informações veiculadas de forma diferente das suas é realmente um erro.
Juliana T. Grazini dos Santos – Doutora em Informação e Comunicação/ Popumarização da ciência pela Universidade de Paris VII.
Imagem : Shchus