« O consumo do chá, introduzido no Magrebe no final do século XVIII e no Saara Central na segunda metade do século XIX, só se tornou comum entre os tuaregues no início do século XX. Em vista dessa introdução relativamente recente, só podemos nos surpreender com o grande espaço que o chá ocupa hoje nas tradições das práticas de iluminação e sociabilidade dos tuaregues. Quais seriam os motivos?
Bebido quente, várias vezes ao dia, o chá mata a sede de forma duradoura, pode acalmar a sensação de fome e ajuda a combater o cansaço. O chá verde, consumido apenas porque não é fermentado, não está em contradição com as prescrições do Alcorão. E, acima de tudo, o chá é uma bebida “social” por excelência.
Beber chá nas paradas das caravanas e nas cerimônias familiares e comunitárias, oferecê-lo aos convidados que passam, significa descanso, hospitalidade, troca e partilha, atos vitais para a vida no deserto.
A dimensão cerimonial do consumo do chá se expressa no andamento codificado das fases de preparo e nos gestos “técnicos”, definidos pela receita do chá saariano: em decocção e não em infusão, muito doce, perfumado com plantas aromáticas, espumoso e aerado. Em seguida, deve ser fervido por pelo menos quinze minutos, despejado várias vezes de um bule para outro, adoçado diretamente no bule e despejado, com um gesto largo, bem sobre o copo. É o oficiante da cerimónia, na maioria das vezes um homem, que enche e distribui a cada um dos convidados, na ordem precisa, as três taças sucessivas, como manda a tradição. »
Tatiana Benfoughal – Pequeno dicionário curioso da alimentação, página 192.
Eu como, logo existo
« Eu como, logo existo », é a grande exposição do Musée de l’Homme (Museu do Homem) em Paris, dedicada à alimentação, e que acaba no 31 de agosto de 2020.
A Verakis foi, conferiu, e nesta última semana estival na França, semana de férias para a nossa equipe na Europa, vai compartilhar algumas definições, escolhidas especialmente para nosso seguidores, do « Petit dictionnaire curieux de l’alimentation » (Pequeneo dicionário curioso da alimentação).
O intuito é compartilhar um pouco da visão multifocal do Museu do Homem e sua equipe de pesquisadores, que é também como a Verakis enxerga a alimentação.
Outro objetivo destes « posts » é compartilhar textos, e nomes de pesquisadores que saem do « denominador » comum dos comentários e citações mais popularizados.
Quem é Tatiana Benfoughal
Tatiana Benfoughal é doutora em etnologia, adida honorária do Museu Nacional de História Natural (Musée de l’Homme), e especialista em etnologia europeia e norte-africana.
Foto: Alexandra Anschiz