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2020

O comportamento alimentar nos EUA – Protagonismo da alimentação nos momentos de crise

Descubra como os hábitos alimentares nos Estados Unidos são diferentes do Brasil durante a crise e quarentena do COVID-19, e como o varejo está se adaptando.

Uma das coisas mais difíceis de nos adaptarmos quando saímos do nosso país para viver em um outro é o hábito alimentar. Muitas vezes precisamos deixar para trás nossas preferências e, pela falta de disponibilidade de alguns alimentos no novo país, criarmos novas experiências. Nem sempre essas descobertas são as mais prazerosas, mas, com o tempo, a tendência é se adaptar aos novos hábitos e, sempre que possível, preparar alguns pratos do país de origem para matar as saudades.

Nos Estados Unidos, os hábitos são muito diferentes do Brasil, por exemplo. Em épocas de crise e quarentena, isso fica ainda mais evidente para uma brasileira vivendo em terras americanas.

Enquanto os alimentos enlatados, semi-prontos e industrializados estão praticamente esgotados nos grandes mercados, os alimentos frescos, como frutas e verduras, mantém seu espaço nas prateleiras. Foi curioso observar que, mesmo em tempos que deveríamos priorizar a saúde e a imunidade, não pareciam ser os alimentos com mais fibras e vitaminas, os escolhidos pela maioria da população.

O hábito alimentar nos EUA

O tipo de consumo, neste momento, apenas reforçou como a cultura alimentar americana é imediatista, prática e rápida. O ritual do almoço dos americanos, por exemplo, é bem diferente do brasileiro. Quando estão no trabalho, não existe o almoço em grupo diário para dar um “break” no dia, como no Brasil.

Aqui, cada um almoça em sua mesa de trabalho, o mais rápido possível, para continuar as tarefas e não se atrasar para ir embora. Eles fazem uma “meal” mais simples, muitas vezes apenas um sanduíche. Na lancheira de almoço das crianças eles mandam coisas práticas, como biscoitos, pão e geleia. Bem diferente da cultura brasileira do “arroz e feijão” em todas as refeições.

O distanciamento social e os novos modelos de negócios

Essa praticidade também causa mudança nos modelos de negócios. Muitos varejistas (retalhistas em Portugal) oferecem um modelo de venda inovador, que tem ajudado muito nesse momento em que precisamos manter a distância social.

“Pick Up” ou “Curbside” são alguns nomes dados pelos supermercados quando o cliente compra online mas retira na loja, ainda no estacionamento. Paga-se uma taxa para um personal shopper que separa os alimentos, leva até o carro e explica se houve alguma alteração no seu pedido (o cliente pode escolher substituir por algo similar se o seu item estiver em falta). Em épocas de quarentena, a taxa foi isenta e o cliente não precisa sair do carro para se comunicar com o personal shopper. O cliente poderá ver no aplicativo onde fez o pedido quais substituições foram feitas e o valor final, já registrado no cartão de crédito. Além de ser muito funcional nesta época de quarentena, é ainda mais barato que o delivery e sem a necessidade de estar em casa aguardando a entrega, em épocas normais.

Como o varejo tradicional reage ao momento de crise

Os hábitos alimentares menos complexos e o modelo de compra mais conveniente, porem, não impediram um comportamento de compra impulsivo e individualista, como ocorre em todo o mundo desde o início da pandemia. Esgotaram-se papel higiénico, álcool em gel, desinfetantes e muitos alimentos como massas, molhos, enlatados e ovos. Os varejistas passaram a limitar as quantidades por pessoa apenas alguns dias depois, o que parece ter sido tarde demais, uma vez que estes itens ainda não voltaram as prateleiras.

Segundo a imprensa, a demanda por alimentos está em “níveis sem precedentes” e haverá escassez de produtos causada pela compra de impulso causada pelo pânico. Enquanto presidentes e CEOs de grandes redes pedem para os clientes comprarem com cautela, a população parece não confiar.

Pensamento coletivo

O momento é de medo, angústia e prevenção. Mas, é também momento de pensar no coletivo e avaliar as melhores formas de consumo. Comprar apenas as quantidades necessárias para uma alimentação de qualidade e utilizar-se de formas que privilegiem o distanciamento social podem ser boas opções para a redução do contágio. Façamos a nossa parte!

Thaís Badaro, Houston/Texas, 24 de março de 2020.

Thaís Badaró é uma das correspondentes Verakis para acompanhar a evolução do setor dos alimentos durante a Pandemia do COVID-19. Ela é formada em Publicidade e Propaganda pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com pós-graduação em Marketing pela UFF e MBA em Global Marketing pela University of St. Thomas (Houston, Texas), vive nos Estados Unidos e atualmente trabalha como Consultora de Marketing para Startups e Empreendedores. Durante sua carreira no Brasil, coordenou o Marketing de empresas como Prudential e Leader, com passagem pela Chevron e Ogilvy.

Imagem: Photo by 🇨🇭 Claudio Schwarz | @purzlbaum on Unsplash