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2020

O COMPORTAMENTO ALIMENTAR NA ALEMANHA – PROTAGONISMO DA ALIMENTAÇÃO NOS MOMENTOS DE CRISE

"Relato sobre a quarentena na Alemanha, a preocupação com a escassez de suprimentos, as medidas governamentais e a importância da solidariedade cidadã."

Assim que começaram a mostrar nos noticiários os casos de contaminados do Coronavírus na Itália e o aumento de casos na Alemanha, a preocupação de uma possível quarentena pela população alemã já estava instalada.

Muitos comentavam à respeito mas não se sabia ao certo se isso iria realmente acontecer ou não.

Estávamos à espera de um posicionamento do governo.

E assim foi até o momento em que a Itália toda entrou em quarentena, e também anunciando o mesmo na Espanha, que o caos do consumo excessivo para o estoque de suprimentos nas casas começou. Principalmente de artigos como: álcool em gel, papel-higiênico, macarrão, leite e farinha de trigo : os primeiros a serem esgotados.

Para o estado de emergência e para poder deixar a população mais preparada possível e controlada, o governo alemão criou uma lista de primeiras necessidades para o caso de uma quarentena de 14 dias. Mesmo assim a preocupação de todos ia além ; a maior preocupação era se haveria mantimento suficiente para suprir a todos neste período de “isolamento”.

A Ministra da Alimentação e Agricultura na Alemanha fez um pronunciamento em rede nacional[1] no dia 15 de março de 2020, dizendo que não há nenhum motivo para fazer o estoque excessivo nas casas (chamado aqui como “Hamsterkäufe”) e assegurou que há suprimentos e suportes suficientes para todos.

A Ministra reiterou, neste mesmo pronunciamento, que: – este “estoque” não é apenas desnecessário mas demonstra falta de solidariedade, e leva ao desperdício alimentar. O foco agora não é comprar os suprimentos em quantidades exageradas e sim em quantidades necessárias para que no final todos tenham acesso aos alimentos. » Se fala muito da compaixão e a colaboração com público-alvo real deste vírus, que são as pessoas de mais de 60 anos.

A campanha atual do governo alemão tem como objetivo a conscientização dos cidadãos de que eles também necessitam de seus suprimentos e são os que tem mais ou maior dificuldade de acesso, que a colaboração entre vizinhos e familiares é muito importante neste momento.

A situação atual nesta segunda semana de quarentena na Alemanha, mais precisamente aqui na Baviera, é de restrição de saída, ou seja, não se pode sair mais de 2 pessoas juntas ou familiares, sendo sujeitos à multa.

Os bares, danceterias e todos os outros meios de encontros estão proíbidos, inclusive pic-nic. Parece meio óbvio, mas infelizmente não foi, pois como agora começou a esquentar, depois de um longo inverno, muitos não resistiram e foram para as ruas, para os parques e começaram seus churrascos. E para que a população entenda que o assunto é grave, foi necessário esta medida de restrição severa de saída.

Quase todo o comércio esta fechado, só podendo estar abertos mercados, supermercados, lojas de conveniência, postos de gasolina, farmácias e bancos ; restaurantes e padarias só podem estar abertos até as 18h e só é permitido a veda de comida para “To-go”, não é permitido de nenhuma forma o consumo no local. Muitos restaurantes assim passaram a propor a venda de seus pratos, pizzas, etc., congelados. Assim, muitos consumidores acabam comprando mais num mesmo local. A compra online, é claro, muito incentivada no momento.

O acesso aos hipermercados não tem restrição ao número de clientes, como em alguns outros países da Europa. Os mercados menores tem restrição de acesso em função do espaço físico, para se evitar a aglomeração de pessoas. O número máximo de clientes atendidos é de 4 pessoas.

De modo geral se deve estar atento à distância de 1,5 m entre ss pessoas ; nas filas para o pagamento há fitas adesivas no chão marcado a distância de espera ; os caixas estão protegidos por uma “parede de acrílico”, onde o vendedor não tem quase contato com o consumidor.

Nas poucas vezes que fui ao supermercado vi poucas prateleiras vazias, mas no começo haviam muitas. Perguntava-se se era realmente falta de mantimentos, mas não era o caso, era falta de pessoal para abastecer. O consumo foi tão exagerado nos primeiros dias de pré quarentena, que os funcionários dos supermercados e mercados não davam conta de reabastecer as prateleiras.

Outra questão muito discutida e incentivada pelo governo alemão neste momento, é a compra dos alimentos em mercados menores do bairro, nos mercados abertos e também dos pequenos produtores, nas cidades próximas dos grandes centros urbanos. Isso porque eles serão mais atingidos economicamente nesta crise.

O maior problema do enfrentamento da COVID-19 que a Alemanha está enfrentando é comportamento social dos que não querem ser solidários no momentos das compras e/ou não querem obedecer as regras de confinamento. O suprimento de alimentos é robusto pode manter-se estável se todos colaborarem e não consumirem com exagero.

A solidariedade é solicitada, o momento é de ficar em casa, protegendo á sí mesmo e aos outros.

Patricia Petermann, Alemanha, 01 de abril de 2020.

Patricia Petermann vai ser um dos correspondentes Verakis para acompanhar a evolução do setor dos alimentos durante o confinamento europeu, ela é nutricionista, com aperfeiçoamento em Gestão da qualidade de alimentos pela Verakis e Universidade Autônoma de Madrid, mora na Alemanha há quase 10 anos.

Fontes:

https://www.bmel.de/DE/Ministerium/_Texte/corona-virus-faq-fragen-antworten.html#doc13796248bodyText2

https://www.rbb24.de/wirtschaft/thema/2020/coronavirus/beitraege/bundesregierung-vorschlag-laeden-schliessen.html

[1] https://www.bmel.de/SharedDocs/Pressemitteilungen/2020/2020-3-Weltverbrauchertag.html